São Paulo, terça-feira, 2 de julho de 1996
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Vale a pena fazer benchmarking na Alemanha

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, a conquista do título europeu de seleções pelos germânicos, em pleno estádio de Wembley, no domingo, avivou em mim um certo sentimento que trazia guardado desde a tarde de 10 de julho de 1994.
Este sentimento começou no crepúsculo visto do outro lado da ilha de Manhattan, no Giant Stadium, e terminou em um agradabilíssimo jantar em Hoboken, Nova Jersey -lugar onde, no dia 12 de dezembro de 1915, um certo Francis Albert Sinatra mostrou a sua voz pela primeira vez ao mundo, na forma de um sonoro choro de bebê que acaba de nascer.
Naquela tarde a Alemanha havia sido crucificada e expulsa do paraíso da Copa do Mundo dos EUA por um xará búlgaro de Cristo, o Stoichkov, que, sem amor pelos conterrâneos do reformador Martinho Lutero, provocou a maior surpresa daquele Mundial de futebol.
Meu sentimento difuso, na ocasião: a Alemanha não merecia ser eliminada da Copa.
Por que sentimento difuso, e não uma clara convicção?
Por que a Bulgária, pobre Bulgária que hoje virou um fantasma enebriado de si mesmo, tinha jogadores muito habilidosos e mostrou uma determinação extraterrestre para vencer aquele jogo por 2 a 1, e eliminar os alemães nas quartas-de-finais (as estatísticas, até então, indicavam que quando os germânicos chegavam às quartas, a tendência era eles seguirem em frente).
Mas, que aquela seleção da Alemanha, era um bom time de futebol, ora se era.
(Antes que os idiotas da objetividade atirem as suas surradas pedras, esclareço que era um bom time dentro dos padrões alemães, de jogo eficiente e de segurança máxima, procurando atingir o objetivo pré-estabelecido).
Após o jogo, uma cena rara entre os alemães: acusações mútuas, discussão, e, se não me engano, apontado como o responsável pela derrota, o goleiro Illgner abandonou a delegação ali mesmo, no vestiário do Giants Stadium.
O técnico Berti Vogts, que foi um grande lateral e jogou nas Copas de 70, 74 (campeão) e 78, foi mantido no comando. Iniciou um processo de renovação, mas manteve, para a Euro-96, alguns dos melhores jogadores de 94, como o multifuncional Sammer, Haesller, o habilidoso Moeller (ficou fora no domingo) e o politicamente correto Jurgen Klinsmann.
A desclassificação da Copa e o título do domingo mostram que o futebol alemão varia, acima da média, dentro de balizas mais estreitas do que as outras escolas de futebol.
Tem toda razão aqueles que acham que a evolução do futebol brasileiro se dará compondo o talento inato com a força organizativa, a regularidade e a eficiência do fut alemão.
Não perder nas disputas de pênaltis, não perder nas prorrogações, também parecem ser prerrogativas alemãs nas quais os técnicos brasileiros deveriam fazer um cuidadoso benchmarking.
Enfim, para muitos alemães, a rainha Elizabeth no pódium pode ser a vingança da geração de 66, aquela do jovem Beckenbauer, Overath e cia.
Para mim, é uma vingança do Vogts-94, ainda que a Euro-96 pouco tenha apresentado de novo para o futebol.

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