São Paulo, segunda-feira, 8 de julho de 1996 |
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BC ataca defesa de diretores do Nacional CARI RODRIGUES CARI RODRIGUES; GUSTAVO PATÚ
O relatório final dos auditores do Banco Central ataca as explicações apresentadas pelos ex-administradores do Banco Nacional sobre os empréstimos fraudulentos apontados na investigação. Esses empréstimos, em valores atualizados, somam R$ 5,538 bilhões. Merecem destaque especial no relatório, obtido pela Folha, declarações do ex-presidente do Nacional Marcos Magalhães Pinto e do ex-diretor Clarimundo Sant'Anna, tido como o coordenador do esquema de créditos fictícios. Até agora, os dois têm evitado falar em público sobre as acusações contra o banco. O papel tem sido desempenhado pelo advogado Sérgio Bermudes (leia ao lado). Ironia Nas 13.204 páginas entregues anteontem pelo BC à Justiça de Minas Gerais, as explicações de Magalhães Pinto e Sant'Anna aparecem destacadas em negrito, seguidas de comentários críticos -e até irônicos. "Tudo o quanto possa ter sido feito decorreu da necessidade imperiosa de preservação do banco, para não se porem em risco os seus clientes, os seus empregados, nem se abalar o sistema financeiro." Essa, segundo o relatório, foi uma das declarações de Marcos Magalhães Pinto à comissão de inquérito do BC, quando perguntado sobre os empréstimos fictícios. O ex-administrador, também segundo o BC, disse não ter causado prejuízo aos clientes do banco. Contribuinte Comentário do relatório: "É evidente que alguém ficará com o prejuízo, nem que seja, em última análise, o contribuinte". O tamanho desse prejuízo, pelo cálculo dos auditores, chega a R$ 7,594 bilhões, conforme a Folha noticiou anteontem. A parte principal do rombo é formada pelas 652 operações fraudulentas de empréstimos, contabilizadas como normais nos balanços do Nacional desde 1987. Constavam como devedores do banco antigos clientes, em geral empresas falidas ou concordatárias -que não haviam tomado os empréstimos nem sabiam das operações que estavam em curso. Na última sexta-feira, a Polícia Federal indiciou os gerentes Omar Bruno Corrêa e Nicolau Feijó. Eles sã suspeitos de terem participado das fraudes no Nacional. Ajuda informal Clarimundo Sant'Anna, segundo o relatório do BC, ajudou "informalmente" a detectar o esquema. Mas suas declarações formais pouco contribuíram. "O que esses créditos têm de excepcional é que, uma vez vencidos e não pagos, deixaram de ser registrados como perdas nas contas de resultado do banco", disse Sant'Anna, segundo o relatório. Apesar de ser quase uma confissão de maquiagem de balanço, a declaração é atacada pelos auditores do BC, por ter omitido, entre outras coisas, "que foi lograda a boa-fé dos seus depositantes, que correram risco sem saber". Marcos Magalhães Pinto, sempre segundo o relatório, chegou a alegar que normas do próprio BC permitiam critérios menos rígidos na produção de balanços. "Múltiplas e sucessivas normas, emanadas das autoridades monetárias, permitiram que instituições financeiras apresentassem e mantivessem demonstrações contábeis peculiares a exigências conjunturais", disse Magalhães Pinto. Respondem os auditores que, consultada a legislação "desde a nossa Carta Magna (a Constituição de 1988) até o mais frágil dos instrumentos normativos", nada foi encontrado que autorizasse o que o Nacional fez. Texto Anterior: PT decide votar contra a criação de novo imposto Próximo Texto: Advogado vê 'leviandade' Índice |
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