São Paulo, segunda-feira, 8 de julho de 1996
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Família pode obter indenização

FREE-LANCE PARA A FOLHA

AURÉLIO GIMENEZ
A descoberta do laudo cadavérico oficial do capitão Carlos Lamarca poderá alterar os rumos do processo de pedido de indenização à família do guerrilheiro, que está sendo analisado pela Comissão dos Mortos e Desaparecidos Políticos do Ministério da Justiça.
"São provas tão contundentes, que não podem ser ignoradas", afirmou o engenheiro de vôo, César Lamarca, 35, filho mais velho do guerrilheiro.
O laudo do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, da Secretaria de Segurança da Bahia, indica que o líder do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) foi executado pelos militares que o perseguiam, sob o comando do então major Nilton Cerqueira, secretário de Segurança do Rio.
Procurado pela Folha, a assessoria de imprensa do general Nilton Cerqueira informou que ele não falaria sobre o caso.
Assinado pelos peritos Charles René Pittex e José Francisco dos Santos, já mortos, o laudo contém cinco páginas escritas dos dois lados, anexos de ilustrações das perfurações a bala e fotografias da necropsia de Carlos Lamarca.
César diz que há 25 anos a família tentava obter os documentos.
"A história de Lamarca não será a mesma a partir de agora", afirmou. Segundo ele, não há mais dúvidas de que seu pai foi executado, além de haver a possibilidade de os restos mortais do capitão estarem sumidos.
"Nos entregaram um corpo que pode não ser o dele. O maxilar e o número de perfurações não batem. Faltam pelo menos duas marcas. Vamos fazer o exame de DNA para confirmar se a ossada é mesmo de Lamarca", revelou. O exame será feito num laboratório da Argentina.
Segundo o legista da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Nelson Massini, que teve rápido acesso aos documentos, o laudo oficial é importante para se conhecer a versão oficial da morte de Lamarca.
Ele disse que a ossada e o laudo oficial podem não se complementar. Para Massini, o laudo foi muito bem produzido para os padrões brasileiros. Segundo ele, a proporção dos tiros podem indicar que Lamarca não resistiu a seus perseguidores. O laudo mostra ainda um cadáver de aspecto subnutrido.
Para César, agora é a oportunidade histórica de o Exército rever a sua posição em relação ao caso, assim como "de o governo Fernando Henrique dizer a que veio".
"Não é revanchismo. Apenas queremos a verdade. O reparo legal é uma decorrência da própria lei", afirmou o filho de Lamarca.

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