São Paulo, segunda-feira, 8 de julho de 1996
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Breuer debate a tecnologia da vanguarda

DANIELA ROCHA
DA REPORTAGEM LOCAL

Lee Breuer, o diretor e líder do consagrado grupo nova-iorquino de teatro Mabou Mines, considerado a vanguarda das artes nos anos 70 e 80, chega a São Paulo para participar de um debate na Folha e promover um workshop.
O debate "O Teatro e Suas Fronteiras" acontece hoje, às 19h30, no auditório do jornal, e o workshop será realizado no Studio Cristina Mutarelli (leia texto nesta página).
O trabalho de Breuer frente ao Mabou Mines é conhecido por ser controverso. Ele une diferentes manifestações artísticas, como artes plásticas, dança e interpretação, à tecnologia.
Para mostrar um pouco de seu trabalho -ele apresentou a nova montagem de "Red Horse Animation" apenas no Rio, durante o Rio Cena Contemporânea-, Breuer traz a São Paulo vídeos das suas peças "Gospel at Colonus" e "Sister Suzie Cinema" além da ópera que está preparando sobre be-bop.
Nesta entrevista, Breuer fala do seu trabalho e do que pretende desenvolver em São Paulo.
*
Folha - Sobre quais aspectos do seu trabalho falará no debate?
Breuer - Vou falar sobre a cena contemporânea do teatro em Nova York e como eu me insiro nela. Também sobre o uso da tecnologia no teatro americano e o meu interesse por música. E sobre o que penso de atuação.
Folha - E no workshop?
Breuer - Devo dar uma idéia sobre o workshop no debate. Estou interessado em mostrar minha técnica de arte. Tem a ver com o último Stanislavski e a pesquisa que venho realizando -fui à China, Indonésia, quatro vezes à Índia. Quero lidar também com a relação da dança, da música e da linguagem. Em vez de dançar pela música, dança-se pela linguagem.
Folha - Você já esteve no Brasil uma vez.
Breuer - Sim. Há cerca de dez anos trouxe "Prelude to Death in Venice" ao Rio e a São Paulo.
Folha - Também usou essa viagem para suas pesquisas?
Breuer - Sim, principalmente em termos musicais. Também sou muito interessado em capoeira e em artes visuais brasileiras.
Folha - Seu trabalho é caracterizado por unir as diferentes manifestações artísticas?
Breuer - Tento unir tecnologia, artes plásticas, dança e música com teatro. As linguagens, apesar de diferentes, têm uma relação entre elas que sinto que pode ser encontrada.
Folha - Qual a diferença entre o "Red Horse Animation" apresentado recentemente no Rio e a montagem dos anos 70?
Breuer - No original dos anos 70 havia uma preocupação com o papel da arte naquele período. Era mais conceitual e minimalista. Este é muito mais voltado ao ritual. Bailarinos dançam sobre uma pintura no meio do palco.
Folha - Qual sua relação com a mídia hoje?
Breuer - Muito boa. Ela apenas não me aponta mais como um artista de vanguarda, mas apenas como um artista.
Folha - Você ainda se considera controverso?
Breuer - Sim. Acho estúpido o teatro comercial. Na verdade, sou até mais de vanguarda agora do que antes. Estou preparando um filme com Harvey Keitel e talvez com Marlon Brando que é de vanguarda. É um filme para festival.
Folha - Você se considera mais um produtor, diretor de teatro ou um escritor?
Breuer - Sou escritor primeiramente. Um escritor cômico. Não faço nada que não ache divertido.
Folha - Você é ambicioso?
Breuer - Sim e não. Estou muito velho para pensar que fazer muito dinheiro... Se você tem 25 ou 30 ou 35 anos e está trabalhando em artes, a ambição aparece na forma de querer mais dinheiro e mais fama porque você sente que vai viver para sempre. Quando você fica cansado -e eu estou com 60 anos agora- você olha para o fim da sua vida e pensa que a coisa mais ambiciosa a fazer é um trabalho melhor do que já fez no passado.
Compito agora com a história. Minha ambição é contribuir para a tradição do teatro. Prefiro fazer isso a ganhar um milhão de dólares com um espetáculo que todos esquecerão daqui a um ano.

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