São Paulo, segunda-feira, 8 de julho de 1996
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Irmão de Menem é alvo de atentado

DANIEL BRAMATTI
DE BUENOS AIRES

Cinco homens armados com pistolas mataram um sargento da Polícia Federal ao tentar invadir a casa do senador argentino Eduardo Menem, irmão do presidente Carlos Menem.
O atentado ocorreu às 23h15 de sábado. Os atacantes fugiram depois de trocar tiros com outros três policiais encarregados da segurança. Um cabo da PF foi baleado no abdômen e está hospitalizado.
Poucas horas depois, o ministro do Interior, Carlos Corach, disse que o incidente poderia ter motivações políticas. "Vamos reavaliar a denúncia do suposto complô contra o presidente", afirmou.
O ministro se referia a uma investigação judicial, iniciada há dez dias, sobre um grupo de extremistas que estaria planejando um atentado contra Menem.
A investigação foi motivada pela denúncia de uma mulher cujo nome está sendo mantido em sigilo. O edifício onde o grupo se reuniria, no Bairro Norte, em Buenos Aires, foi revistado pela polícia, que não encontrou nada suspeito.
Ferocidade
Eduardo Menem também não descartou a hipótese de um crime político. "Eram delinquentes, não sei se políticos ou comuns", disse.
O senador contou que os invasores tentaram entrar pela garagem, onde estavam os policiais, e só recuaram após "15 ou 20 disparos". "Chama a atenção a ferocidade com que chegaram", afirmou. Eduardo Menem estava próximo ao local do ataque.
O irmão do presidente disse ter recebido ameaças telefônicas, mas não quis vinculá-las ao caso. "Houve ligações anteriormente, mas nunca as levo a sério. Ameaças são comuns hoje."
Normalmente a segurança de Eduardo Menem é feita por apenas dois policiais. O senador disse que os outros dois estavam "visitando" os colegas quando foram surpreendidos pelo ataque.
Minutos antes, o subchefe da Polícia Federal, Baltazar García, havia dito que "todos os membros importantes do governo" estavam com a custódia reforçada.
Cara-pintadas
A edição de ontem do jornal "Clarín" informou que "alguns meios de comunicação" haviam recebido ligações anônimas na noite de sábado, com pedidos de libertação do tenente-coronel Mohammed Ali Seineldin.
Seineldin é um dos líderes dos militares "cara-pintadas" que, em dezembro de 1990, se rebelaram contra o governo. Da prisão, o tenente-coronel divulgou uma nota em que negou qualquer envolvimento no atentado.
O uso de pistolas em vez de fuzis e metralhadoras alimentou especulações sobre uma nova ação da ORP (Organização Revolucionária do Povo), suposto grupo de extrema-esquerda que tentou matar o médico Jorge Bergés.
Bergés, acusado de torturador durante o regime militar, foi baleado no início de abril por dois homens armados com pistolas, quando saía de casa com a mulher.
Na época, o governo lançou dúvidas sobre a existência da ORP, que assumiu a autoria do atentado. O ministro Corach disse que a ação poderia ter sido realizada por "mão de obra desocupada" -referência a ex-integrantes dos serviços de inteligência na década de 70.
Ontem, a polícia reforçou ainda mais a segurança de Eduardo Menem, que circulou pela cidade escoltado por quatro automóveis.
As mesmas medidas devem ser tomadas para proteger a filha do presidente, Zulemita, e a ex-mulher, Zulema Yoma, que sustenta a tese de que seu filho Carlos Menem Jr. -morto em acidente- foi assassinado por "máfias envolvidas com o governo".

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