São Paulo, segunda-feira, 8 de julho de 1996
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CÍRCULO DE INTRANSIGÊNCIA

A fenomenal velocidade dos eventos no mundo moderno leva a mudanças igualmente exponenciais de expectativas. O caso do Oriente Médio talvez seja o exemplo mais eloquente. A partir dos acordos de paz de Oslo, em 93, as expectativas evoluíram muito mais velozmente que a paz propriamente dita. Chegou-se até a discutir a hipótese de criar uma zona de livre comércio entre Israel e seus vizinhos árabes, embora o Estado judeu ainda estivesse tecnicamente em guerra com alguns deles.
Bastou, no entanto, uma eleição e, nela, a vitória do candidato conservador, para que todas as expectativas ficassem no mínimo congeladas. Hoje, o ponto central de discussões não é mais a viabilidade ou não de uma zona de livre comércio, mas se haverá ou não uma paz duradoura seja entre Israel e os palestinos, seja entre Israel e seus demais vizinhos.
Uma segunda eleição, esta na Turquia, complicou ainda mais o cenário. A vitória de um partido fundamentalista islâmico é uma evidência adicional de que o fundamentalismo tem uma audiência que não se limita aos fanáticos terroristas.
Todo governo de países muçulmanos é obrigado a ficar atento a esse público, tradicionalmente hostil a qualquer concessão a Israel. Da mesma forma como o novo governo israelense apóia-se, em parte, nos seus próprios fundamentalistas, avessos a concessões aos palestinos.
Fecha-se, com isso, um círculo de intransigência que é pouco favorável à evolução do processo de paz, nos termos desenhados pelos acordos de Oslo. E, sem um horizonte de paz, é pouco provável que se possa atenuar as dificuldades econômicas que, para fechar o círculo, alimentam o fundamentalismo.

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