São Paulo, segunda-feira, 8 de julho de 1996 |
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O embuste das reformas
CARLOS HEITOR CONY Rio de Janeiro - Continuo sem opinião formada sobre o imposto que Jatene deseja cobrar para diminuir o descalabro na saúde pública. No entanto, me irrita a campanha feita contra o ministro, na tentativa de fritá-lo e instalar na pasta da Saúde um tecnocrata-guarda-livros que terá como única preocupação equilibrar receita e despesa, apresentando saldo neoliberalmente correto.A acusação que os áulicos do poder estão brandindo é que Jatene, enquanto luta pelo imposto, nada mais está fazendo. Ou seja: o ministro escolheu um cavalo de batalha e ensarilhou armas, criando uma desculpa para a ociosidade administrativa. Enquanto não lhe derem o dinheiro do imposto, que tudo o mais vá para o inferno. Não acredito que esta seja a tática adotada por Jatene. Mas, se acaso ele escolheu esse caminho, está seguindo fielmente o padrão operacional do governo e, em especial, do presidente da República. Alegando que sem as reformas nada pode ser feito, o governo também nada faz, toca os burros na rotina. A cada cobrança mais radical ou enérgica da sociedade, lá vem o presidente ou seu preposto de plantão repetir a ladainha: não podemos fazer nada por causa do Congresso, que não reformou isso ou aquilo da Constituição. É uma empulhação. O lado mais feérico (embora polêmico) do atual governo -o Plano Real- foi uma conquista de Itamar Franco, que não precisou reformar nada. Apenas deu condições políticas e morais para que uma equipe (que já errara antes) tentasse outra vez. Apesar da relativa estabilidade da moeda -ameaçada por todos os lados não pela âncora, mas pela verdade cambial-, sente-se a frustração do povo que se manifesta na queda da popularidade de FHC e nas constantes vaias que vem recebendo. Por ora, de grupos ligados a partidos de oposição. Mas, do jeito como vão as coisas, em breve será a sociedade inteira a denunciar o embuste. Texto Anterior: O ano do teste Próximo Texto: Índios Índice |
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