São Paulo, quarta-feira, 10 de julho de 1996
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Laudo de Lamarca teve aval do Exército

RAYMUNDO COSTA
DO PAINEL, EM BRASÍLIA

O ministro do Exército, Zenildo de Lucena, e o chefe da Casa Militar, Alberto Cardoso, estimularam a divulgação do laudo cadavérico do capitão Carlos Lamarca.
O documento lança novas hipóteses sobre as circunstâncias em que ocorreu a morte do capitão.
O líder guerrilheiro foi morto em 1971 em Brotas de Macaúbas (BA), em operação comandada pelo atual secretário de Segurança do Rio, general Nilton Cerqueira.
O laudo estava guardado em um cofre da Polícia Federal, em Salvador, havia 25 anos.
Foi encontrado pelo delegado Joel Almeida de Lima depois de busca feita por determinação do ministro da Justiça, Nelson Jobim.
Os papéis foram entregues a Jobim pelo diretor-geral da Polícia Federal, Vicente Chelotti.
Em seguida, o ministro consultou o presidente Fernando Henrique Cardoso, que mandou divulgar os documentos.
Antes de encaminhá-los à comissão dos desaparecidos, Jobim decidiu falar com o ministro Zenildo e com o general Cardoso.
Depois de tomar ciência do teor dos papéis, Zenildo disse, segundo Jobim, que eram documentos sobre os quais "a nação precisava tomar conhecimento". A seu lado, o general Cardoso concordou.
O laudo cadavérico de Lamarca não foi encontrado por acaso. A Superintendência da PF na Bahia sempre negou que o documento constasse de seus arquivos.
'Documento histórico'
Ao tomar conhecimento da possível existência do laudo, o deputado Nilmário Miranda (PT-MG), integrante da comissão dos desaparecidos, cobrou, há duas semanas, providências de Jobim, segundo quem a PF não tinha nada além do que já enviara à Comissão de Direitos Humanos da Câmara.
"Esse governo não dispõe de nenhuma informação que não foi levada a público", disse o ministro. De qualquer forma, pediu que a Superintendência da PF na Bahia verificasse a informação.
O documento foi trancado no cofre em 1971 pelo coronel Luiz Arthur, que dirigia a PF à época e participara do cerco a Lamarca.
Na ocasião, teria colocado os papéis embaixo do braço e dito: "Este é um documento histórico".
Para Miranda, a localização do laudo confirma suspeita de que a PF guarda documentos capazes de esclarecer a morte ou o desaparecimento de militantes de esquerda no fim dos anos 60 e início dos 70.
Fêmur
Um fragmento do fêmur da ossada que seria de Lamarca será encaminhado até o final da semana para um laboratório em Buenos Aires. Lá serão feitos exames comparativos de DNA com amostras de sangue de César, 35, e Cláudia, 33, filhos de Lamarca.
O material será encaminhado pelo perito Nélson Massini, 48, para acabar com as dúvidas surgidas na exumação dos restos mortais de Lamarca, há 15 dias. De acordo com Massini, a mandíbula encontrada não é do corpo exumado.
Militares
A comissão que analisa os pedidos de indenização para mortos e desaparecidos políticos discutirá o caso Lamarca dia 1º de agosto.
O general Cardoso (Casa Militar) disse que não há risco de desobediência militar caso a comissão reconheça a responsabilidade do Estado na morte de Lamarca.

Colaboraram Cristina Grilo, da Sucursal do Rio, e William França e Augusto Gazir, da Sucursal de Brasília

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