São Paulo, quarta-feira, 10 de julho de 1996
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Estado terá de dar 'coquetel anti-Aids'

RICARDO FELTRIN
DA REPORTAGEM LOCAL

A Justiça concedeu ontem uma liminar que obriga o Estado a fornecer à professora Nair Soares Brito e Brito os medicamentos saquinavir e epivir, considerados de última geração no combate à Aids.
A liminar, primeira do gênero no país, também obriga o fornecimento de outro medicamento, o neodecapeptil, utilizado no combate à endometriose (doença do endométrio, a mucosa uterina).
O Estado de São Paulo tem cinco dias para comprar e entregar os medicamentos à professora Nair.
A decisão foi tomada pelo juiz Marco Aurelio Paioletti Martins Costa, da 1ª Vara da Fazenda Pública Central de São Paulo.
Segundo a decisão de Martins Costa, o Estado não poderá cassar a liminar até que seja julgada a ação principal -o passo jurídico seguinte à liminar.
O Gapa tem 30 dias (a partir de ontem) para dar entrada à ação ordinária. O julgamento desta ação, segundo advogados, pode demorar cerca de um ano.
Martins Costa baseou sua decisão na Constituição, que obriga o Estado a garantir a saúde aos cidadãos, e no fato de o não-fornecimento poder colocar em risco a vida da professora.
A ação chegou ontem às 17h30 à Secretaria de Estado da Saúde e foi enviada ao departamento jurídico.
A secretaria informou que iria estudar quais medidas serão tomadas em relação à decisão da Justiça. A ação foi movida pelo Gapa (Grupo de Apoio e Prevenção à Aids), a qual Nair é associada.
Nair é professora licenciada da rede estadual e descobriu ser portadora do HIV há cerca de quatro anos (leia texto nesta página).
Uma "vitória"
A presidente do Gapa, Áurea Celeste da Silva Abbade, considerou a decisão da Justiça como "uma vitória". O pedido de liminar foi feito há cerca de um mês.
Segundo ela, o Gapa vai entrar "com quantas ações sejam necessárias" para obrigar o Estado a cumprir a Constituição.
"Queremos distribuir cópias desta ação a todos os advogados que estejam lutando pelos direitos dos portadores. Estamos criando jurisprudência", afirmou Áurea Abbade.
Ela calcula que apenas 15 advogados, ligados a organizações não-governamentais, trabalhem pelos direitos dos portadores de HIV no país.
Preços proibitivos
Segundo o Gapa e pesquisa informal, o preço dos três medicamentos pode chegar a cerca de R$ 1.200 por mês.
Áurea Abbade diz que Estado e União afirmam não ter dinheiro para a compra desses medicamentos, mas "devem cumprir seus deveres constitucionais".
O ministro da Saúde, Adib Jatene, admitiu a importância dos novos medicamentos no combate à Aids - como o saquinavir.
Jatene afirma, no entanto, que o ministério não tem dinheiro para comprar esses produtos. Ele condicionou a compra à aprovação da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras).

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