São Paulo, quarta-feira, 10 de julho de 1996
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Portadora faz palestras sobre sexo seguro

DA REPORTAGEM LOCAL

A professora estadual Nair Soares de Brito e Brito diz ter ficando sabendo que era portadora do vírus HIV há cerca de quatro anos.
Ela afirma que contraiu o HIV em relações sexuais "sem segurança" com um parceiro, que morreu de Aids.
Ontem, depois de saber da decisão da Justiça, ela dizia estar com os sentimentos "divididos". "Estou contente, mas não tenho certeza se o Estado vai recorrer."
Essa hipótese, possível, causava certa revolta na professora. "O Estado não cobra meus impostos? Eu não tenho de cumprir todas as leis? Não tenho de obedecer a Constituição? Então por que ele, Estado, não pode cumprir com suas obrigações diante do cidadão", perguntava a professora, atualmente licenciada da rede estadual.
Membro ativo do Gapa, desde que soube ser portadora do HIV Nair vem dando palestras em escolas e empresas sobre a importância da prevenção da doença.
"Não acredito em destino. Acredito em atitudes e naquilo que fazemos com nós mesmos. Eu fui negligente e contraí o vírus. Espero servir de exemplo para outras pessoas. Que eu sirva para 'acordar' as pessoas sobre o perigo de ser negligente e não fazer sexo seguro."
Nair tem um filho de 15 anos, que não mora com ela. Diz ser uma espécie de "nômade", sem moradia fixa. "Moro em vários lugares."
Hoje, ela diz gastar cerca de R$ 1.000 mensais na compra dos medicamentos AZT, saquinavir e 3TC.
Ela afirma que, depois que começou a tomar esse "coquetel", passou a se sentir muito melhor fisicamente. "Ganhei peso e fico menos deprimida", diz.
Nair afirma que gosta de música e que não tem nenhuma religião. Embora esteja concentrada na literatura sobre a Aids -específica para seu ativismo- ela se diz uma "apaixonada" por Mario de Andrade e Jorge Amado.
"Sinto que vale a pena viver, que vale a pena batalhar. Vou fazer isso enquanto tiver forças. Morrer não é um drama. É parte da vida."

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