São Paulo, quarta-feira, 10 de julho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mídia mundializada ameaça democracia

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

A mídia, considerada um instrumento eficaz de controle democrático dos governantes pela sociedade, tende a assumir no mundo da economia mundializada, ora em gestação, uma função inteiramente nova, podendo mesmo se constituir numa séria ameaça à democracia tal como a conhecemos.
Essa foi a conclusão geral de um debate marcado por intervenções pessimistas na reunião da SBPC: "Globalização e Democracia: Novos Desafios à Mídia Brasileira".
Participaram da mesa, além da coordenadora Vera Chaia, da PUC-SP, o antropólogo Venício Lima, da UnB (Universidade de Brasília), o cientista político Gabriel Cohn, do departamento de ciência política da USP, e Marcelo Coelho, articulista e membro do Conselho Editorial da Folha.
Venício Lima disse que a mídia ocupa hoje papel de vanguarda no processo de globalização, tanto em termos econômicos, por ser um dos negócios mais rentáveis da atualidade, como pela capacidade de absorver os resultados da terceira revolução tecnológica.
A globalização, além de ser tida como inexorável por todos, disse Lima, passou a "delimitar e agendar o espaço da discussão política". O problema, concluiu, é que a mídia atua como se estivesse fora desse processo, quando na verdade está no seu centro.
Gabriel Cohn concordou e acrescentou algumas coisas. Disse que falar em indústria cultural hoje é obsoleto. "Ela, a indústria cultural, é quando muito um subsistema de algo muito maior, inédito em sua capacidade de concentração de poder nas mãos de algumas poucas corporações".
Segundo Cohn, pelo andar da carruagem, alguém terá de propor brevemente a inversão da agenda liberal. "Será preciso criar algum mecanismo público ou governamental capaz de controlar aqueles meios de comunicação que tinham historicamente como tarefa controlar os governos em nome de um suposto interesse público."
Marcelo Coelho , o último a falar, sustentou que "não só os Estados nacionais estão perdendo sua capacidade decisória no mundo contemporâneo, mas as instituições políticas em geral estão definhando", se tornando quase peças decorativas, sem função real.
Segundo Coelho, as decisões que afetam de fato a vida das pessoas "são todas supranacionais".
Neste contexto, disse, a imprensa, que faz do debate nacional e da política institucional os seus eixos, tende a sofrer um abalo sem precedentes no mundo contemporâneo.
Para Coelho, a nova configuração da mídia está mesmo na linha de frente do processo de globalização, marcado por fusões de megaempresas e pela formação de conglomerados que tendem a monopolizar o mercado.
Por outro lado, concluiu, essa nova mídia está criando uma forma de consumo totalmente fragmentada, onde cada um procura no veículo que achar mais adequado informações de caráter individual. Está nascendo uma "democracia de supermercado", sem qualquer vínculo com o espaço público.
(FBS)

Texto Anterior: Prefeitura suspende licitação de obras
Próximo Texto: Pesquisa acha queijo fresco contaminado em São Paulo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.