São Paulo, quarta-feira, 10 de julho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O futebol e as nuvens do político mineiro

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Outro dia mesmo, o volante Amaral, questionado a respeito, deu a entender que a seleção brasileira, a principal, aquela que, se a Copa fosse hoje, representaria o Brasil, é essa aí: a olímpica.
É quase certo que, trazendo no peito a medalha de ouro, será mesmo, embora a paisagem real do futebol flutue como as nuvens do político mineiro: o que parece ser hoje não é amanhã. Mas fiquemos no hoje. Será mesmo essa a nossa seleção principal?
Pode até ser a do Amaral, quem sabe até do Zagallo. Adianto, porém, que não seria a minha. A minha teria Zetti no gol. Cafu na lateral direita, apesar de todo o encantamento que Zé Maria jogou sobre o velho Lobo dos campos, sem contar boa parte da crônica carioca, que insiste no surrado e falso bordão de que Cafu não sabe cruzar bolas na área inimiga. Ecos, ainda, de observações feitas por Telê cinco anos atrás.
Então, temos Zetti, Cafu e acrescento no miolo da zaga, claro, Aldair e André Cruz, caso Márcio Santos não esteja definitivamente recuperado, completando com Roberto Carlos na lateral-esquerda.
No meio-campo, porém, a coisa começa a pegar, porque, ao contrário de Zagallo e seu antecessor Parreira, não escalaria uma dupla de típicos cabeças-de-área, no estilo de Flávio Conceição, Amaral, Zé Elias, Mauro Silva ou César Sampaio. Ficaria com um deles apenas, de preferência César Sampaio. O outro teria de ser um médio capaz de sair jogando com estilo e ciência, além de marcar com ferocidade.
Nesse caso, testaria André ali, ou recorreria a Leonardo, para completar o meio-campo com os dois meias indiscutíveis: Giovanni, pela direita; Rivaldo, pela esquerda.
No ataque, se a Copa fosse hoje, Bebeto e Romário. Mas, como é daqui três anos, Ronaldinho e Sávio.
*
E o sonho acabou. Não que o Palmeiras tenha caído na mais cava depressão, a exemplo do que ocorreu com o São Paulo bi do mundo depois de desfazer-se de uma penca de craques. Mas, depois da saída de Rivaldo, não há como se esperar a reedição daquelas exibições deslumbrantes.
Afinal, Rivaldo, como Muller, não tem similar.
Apesar disso, o Palmeiras de Reinaldo e Elivélton, mas também de Cafu, Djalminha, Luizão etc., ainda é um sério candidato ao título brasileiro.
*
Pelas informações que nos chegam de Teresópolis, as atuações de Ronaldinho andam mexendo com a velha cuca de Zagallo, que já se havia definido por Sávio ao lado de Bebeto, este absolutamente intocável, claro.
O diabo é que esse ataque, com dois jogadores leves, ainda mais tendo o franzino Juninho como complemento, não condiz com o histórico de Zagallo, um treinador que sempre optou por centroavantes típicos, fortes, embora velozes e com capacidade de deslocações constantes. Basta listar de Dario e Roberto Miranda a Muller, que fez dupla com Bebeto antes de Romário quando Zagallo só cochichava no ouvido de Parreira, passando por Mirandinha, César etc. Tostão e Romário foram duas exceções, a contragosto.

Texto Anterior: Dinamarca supera Brasil em confrontos diretos
Próximo Texto: A pia da cozinha
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.