São Paulo, quarta-feira, 10 de julho de 1996
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Rússia tem pior combate após trégua

JAIME SPITZCOVSKY
ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

Tropas russas e separatistas tchetchenos se enfrentaram ontem nos combates mais violentos das últimas seis semanas. Pelo menos 20 civis morreram e 40 ficaram feridos no ataque contra o vilarejo de Gekhi, afirmaram os rebeldes.
Moscou disse que seis de seus militares morreram no enfrentamento, que viola um cessar-fogo em vigor desde maio.
A guerra na Tchetchênia, região muçulmana no sul da Rússia, já matou pelo menos 30 mil pessoas, em sua maioria civis. Os separatistas declararam independência em 1991, mas Moscou enviou tropas apenas em dezembro de 1994.
Os combates em Gekhi, vilarejo controlado pelos separatistas, ocorreram no dia em que terminou o prazo estipulado pelos russos para que os rebeldes libertassem prisioneiros de guerra.
Os choques começaram antes de vencer o ultimato, marcado para 18h (11h de Brasília).
Viatcheslav Tikhomirov, comandante das tropas russas na Tchetchênia, havia prometido "destruir" as forças rebeldes caso não houvesse a libertação.
Versões
Há três versões para o início dos combates. Segundo Tikhomirov, os rebeldes atacaram na tentativa de surpreender os russos antes de vencido o ultimato.
O governo tchetcheno pró-Moscou disse que as tropas de Tikhomirov atacaram depois de encontrar corpos de prisioneiros russos fuzilados nos arredores de Gekhi.
O general russo Vladimir Chamanov afirmou que os combates começaram quando, numa operação de checagem de documentos, suas tropas interceptaram um grupo de cerca de 70 rebeldes.
Helicópteros e aviões de combate sobrevoaram Gekhi. Os rebeldes ameaçavam fuzilar todos os prisioneiros russos caso Moscou não suspendesse os ataques.
Segundo o general Chamanov, os combates terminaram às 15h, três horas antes do limite do ultimato. Não foram registrados novos enfrentamentos após as 18h.
O toque de recolher, entre 21h e 5h, voltou a ser imposto na Tchetchênia. Embora oficialmente suspenso no começo do ano, a medida continuava na prática.
A tensão aumentou na região com a notícia do fechamento do aeroporto de Grozni e das estradas que levam à capital tchetchena.
No dia 27 de maio, o presidente russo, Boris Ieltsin, e o líder dos rebeldes, Zelimkhan Iandarbiev, assinaram acordo que previa uma trégua e a retirada das tropas russas até 1º de setembro.
O acordo não definiu o futuro político da Tchetchênia. Ieltsin aceita aumentar a autonomia, mas rejeita a independência. Desde maio, os dois lados trocam acusações de violação da trégua.
Ieltsin, reeleito na votação do último dia 3, esforçou-se para obter um acordo com os rebeldes durante a campanha eleitoral. A guerra lhe custa popularidade.
O presidente nomeou ontem Nicolai Kovaliov chefe do Serviço de Segurança Federal, um dos sucessores da KGB. A organização cuida da segurança interna e da contra-espionagem. Seu ex-chefe, acusado de corrupção, foi demitido por Ieltsin na campanha.
Assessoria
Três assessores políticos dos EUA disseram ontem ter participado secretamente da campanha de Ieltsin, ajudando o presidente a criar campanha anticomunista.
Os três já haviam trabalhado na campanha do republicano Pete Wilson ao governo da Califórnia.

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