São Paulo, quarta-feira, 10 de julho de 1996 |
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Conrad inspirou Unabomber, diz FBI
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
Mesmo antes da identificação do matemático Theodore Kaczynski como o principal suspeito pelos atentados atribuídos ao Unabomber, o FBI já tinha como certo que o terrorista lia e admirava Conrad (1857-1924). Tanto, que diversos psicólogos foram contratados pela polícia para traçarem um perfil da personalidade do Unabomber a partir dos personagens de Conrad. Na história de "O Agente Secreto", um químico talentoso abandona o emprego por se sentir maltratado no instituto de pesquisa em que trabalhava e se isola num pequeno quarto para conceber uma bomba que poderia destruir um símbolo da ciência, um observatório astronômico. Kaczynski, um matemático tido como entre os melhores de sua geração, deixou a Universidade da Califórnia em Berkeley por motivos ainda não esclarecidos e passou a viver em reclusão numa cabana no Estado de Montana, onde construiu diversas cartas-bombas que enviou a cientistas. A mãe de Kaczynski admirava o trabalho do romancista britânico Joseph Conrad e tinha em casa sua obra completa. Conrad nasceu na Polônia e recebeu o nome Jozef Teodor Konrad Korzeniowski. A família de Theodore Kaczynski emigrou da Polônia. O FBI acha que Kaczynski usou o nome Conrad ou Konrad pelo menos três vezes ao se registrar em hotéis de cidades de onde enviou cartas-bombas a suas vítimas. Numa das cartas que mandou de Montana para seu irmão, agora em posse do FBI, Kaczynski disse estar lendo os romances de Conrad pela décima-segunda vez. O enredo de "O Agente Secreto" é ambientado em Londres, na última década do século 19, quando a capital do Reino Unido estava sendo alvo de atentados terroristas de grupos anarquistas. Os principais personagens do romance fazem frequentes e violentas críticas à atividade científica, "o fetiche máximo desta época", segundo um deles. O líder do grupo que planeja o atentado no livro, Vladimir, despreza a ciência: "Qualquer imbecil que recebe um salário acredita nela". Ele diz que gostaria de "poder jogar uma bomba na matemática", mas como isso é impossível, tenta destruir o observatório. O rapaz que leva a bomba e morre no caminho de sua missão, Stevie, adora e protege animais, como Kaczynski em sua infância, de acordo com relatos familiares. Kaczynski, 54, está preso e aguarda julgamento. Ele já foi acusado de duas mortes. (CELS) Texto Anterior: Palestinos ignoram intimação Próximo Texto: Polícia entra em choque com as Mães da Praça de Maio em igreja Índice |
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