São Paulo, quarta-feira, 10 de julho de 1996
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O porquê da CPMF

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - A defesa que o presidente Fernando Henrique Cardoso faz hoje da Contribuição sobre Movimentação Financeira (CPMF), o imposto do cheque para a saúde, é mais política do que por causa da penúria dos hospitais públicos do país.
Quando o ministro da Saúde, Adib Jatene, apareceu com a idéia da CPMF, o presidente sentiu um alívio. Finalmente, alguém aparecia com uma proposta concreta. FHC se lembrou da época em que era ministro da Fazenda. "Só reclamavam e nada faziam", costuma dizer.
Só que a CPMF foi crescendo. Sem concorrentes, acabou passando pelo Senado. Ficou tarde demais para encontrar uma saída financeira de curto prazo para a saúde.
Enquanto isso, opositores do imposto passaram a fazer cálculos. Concluíram que, com a inflação no nível atual, cobrar 0,25% de todas as operações financeiras será uma catástrofe. FHC também sabe disso. E concorda.
Mas agora é tarde.
Essa exiguidade de tempo é que tornou o apoio presidencial apenas político e não ideológico. Há duas razões principais para a atitude de FHC.
Primeiro porque ficaria muito esquisito para o presidente dizer publicamente que não quer uma receita extra de R$ 6 bilhões por ano para a saúde -embora muitos acreditem que o valor fique bem abaixo disso.
Em segundo lugar, mesmo sabendo que a CPMF é ruim para a economia do país, FHC não tem como dizer que se enganou. Seria mais um revisionismo em sua carreira. Até aí, tudo bem. O problema, mesmo, ficaria para a imprevisível reação de Jatene.
Irritado, o ministro poderia sair atirando, como se diz no jargão político. Em outras palavras, criticando FHC. E seria péssimo para os tucanos ter Jatene, cuja imagem é forte em São Paulo, negando apoio à candidatura de José Serra à prefeitura paulistana.
Ou, pior do que isso, dando apoio ao candidato malufista, Celso Pitta.
Um cenário que FHC deseja evitar. Por isso, apóia um imposto que, no fundo, preferiria ver enterrado.

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