São Paulo, quinta-feira, 11 de julho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Metal Leve não consegue ajuste

FREDERICO VASCONCELOS
DO EDITOR DO PAINEL S/A

A reengenharia da Metal Leve foi incapaz de modificar a perversa lógica do mercado global. Os ganhos obtidos com dispensas e mudanças de unidades eram comidos pela forte competição externa.
Para agravar, a empresa enfrentava um concorrente predador (a Mahle, alemã, baixava os preços e a Metal Leve tinha que acompanhar, apesar de seus custos serem maiores).
Os fortes investimentos e as perdas cambiais no exterior impediam taxas de retorno adequadas.
A Metal Leve enfrentava problemas de gestão. O conselho de administração só decidia por consenso. O sucessor de José Mindlin na presidência, seu filho Sérgio, é tido como excelente técnico, mas sem aptidão para administrar uma companhia daquele porte.
"A Metal Leve não conseguiu fazer o ajuste de custos internos", afirma Alberto Matias.
As despesas administrativas aumentaram, passando de US$ 49 milhões para US$ 55 milhões no período. E o endividamento pulou de 34% para 73%.
A indústria brasileira não teve fôlego e foi vendida à Mahle, numa operação em que participaram a Cofap e o Bradesco. O negócio foi fechado em junho deste ano.
"Nós tínhamos imaginado uma associação com um grupo estrangeiro, minoritário, conservando o controle. Concluímos que a gente estava se iludindo", diz José Mindlin.
"Ficaríamos minoritários, o que não é uma posição cômoda. Não vendendo a empresa, ficaríamos sozinhos num mercado globalizado", confessa Mindlin.
Muito além das intrigas
"Não se previa uma globalização tão acelerada no segmento de autopeças. As empresas estavam dimensionadas para o mercado brasileiro", diz João Bosco Lodi.
A consultoria de investimentos Lopes Filho & Associados, do Rio, já há algum tempo diagnosticara os entraves do setor.
O suprimento às montadoras de módulos complexos exigia associações, previa a Lopes Filho, antes de a Cofap comprar a Metal Leve.
O problema estrutural -à parte as desavenças da família Kasinski- é semelhante ao de outras empresas do segmento.
"A indústria de autopeças não compete em igualdade de condições com as congêneres estrangeiras", diz a consultoria. "Juros internos, estrutura tributária e infra-estrutura pesam contra."
(FV)

Texto Anterior: Proteção ocultava fragilidade da indústria
Próximo Texto: Reengenharia é criticada
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.