São Paulo, quinta-feira, 11 de julho de 1996 |
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Sem a intenção de ser desmancha-prazeres...
ALOYSIO BIONDI "A economia já está em recuperação". Essa foi a tecla repisada, nas comemorações do aniversário do Plano Real, pelo presidente da República e pelos ministros Malan e Kandir, secundados por algumas lideranças empresariais e formadores de opinião.Segundo eles, a expansão da economia no segundo semestre estaria garantida pelo surgimento de sinais positivos em todas as áreas: redução da inadimplência de empresas e consumidores; aumento nas vendas da indústria e comércio; fim das demissões na indústria; queda no desemprego, segundo o IBGE; avanço nas exportações; e, finalmente, o "afrouxamento" no crediário. Infelizmente, qualquer analista isento, por mais que desejasse participar desses festejos, é forçado a traçar um quadro totalmente diferente da economia. Os dados estatísticos, concretos, mostram a necessidade de fortes mudanças na política econômica. * Indústria - o consumo de energia elétrica pela indústria de São Paulo, na área da Eletropaulo, voltou a cair 7% em junho, depois de leve recuperação de 2% em maio, precedida de fantástica queda de 20% em abril. * Automóveis - a produção recuou 11,5% sobre maio. Mesmo com as facilidades de crédito, as vendas despencaram 13,8% sobre o mês anterior e 13,5% sobre junho de 1995. * Supermercados - pelo terceiro mês consecutivo, acusaram retração sobre 1995. Com a "guerra dos pré-datados" (de até 90 dias) e tudo. * Calote - o número de cheques sem fundos subiu 28% em relação a maio em São Paulo, segundo a Teledata. * Gelada - as empresas de "factoring" compram cheques pré-datados e outros documentos de crédito do comércio e indústria, fornecendo-lhes capital de giro. Seu movimento caiu 10% no segundo trimestre. Mesmo assim, a inadimplência, o nível dos calotes, subiu de 3% para 4,5%. * Desemprego - na última semana de junho, mais 4.200 demissões na indústria paulista, acumulando 296 mil desempregados em 12 meses. * Massa salarial - o total de salários pagos na indústria paulista caiu 8,5%, na comparação com maio de 1995. Repetindo: só quem acredita em milagre pode esperar que a população volte a comprar apesar da violenta perda de poder aquisitivo que vem sofrendo, por causa do congelamento de salários e aposentadorias -e do desemprego. Como mudar esse quadro? Revendo a política salarial e de importações. Olhos de ver Os números de falências e concordatas, mesmo explosivos, não mostram a crise por inteiro. Por quê? Milhares de empresas simplesmente fecham as portas. Basta olhar para a quantidade de imóveis comerciais, com placas ou faixas de "aluga-se", nos principais corredores viários das grandes cidades. Lanchonetes, escritórios, academias, lojas. Fechados. Nem a safra As vendas de tratores despencaram para 4.600 unidades no primeiro semestre. Contra 12,9 mil em 1995. Queda de 66%. Dois terços. Sem investir A equipe FHC/BNDES fala de boca cheia em investimentos bilionários das empresas. Os empréstimos da Finame, para a compra de máquinas e equipamentos, recuaram 30% no semestre. O calote? Subiu de 0,01% para 9%. Sem emprego O desemprego caiu em maio, diz o IBGE. Pelos métodos de cálculo do IBGE, quem trabalhou uma (u-m-a) hora na semana anterior à pesquisa não é considerado desempregado. Armadilha E o afrouxamento no crédito, com as vendas a prestação em até 16 ou 24 vezes, provocando explosão nas vendas de eletroeletrônicos? Esse filme o país já viu várias vezes. O facilitário é uma armadilha que, mais cedo ou mais tarde, leva a mais calotes, inadimplência, quebradeira. "Remember" Eletroradiobrás, Pirani, Brastel & cia. Sem exportar Há meses, a equipe FHC/BNDES exige orgulhosamente um aumento de 10% nas exportações. Em junho, elas caíram quase 20% na comparação com 1995. Texto Anterior: Brasil, mostra a tua cara! Próximo Texto: Nova filosofia reanima Wall Street Índice |
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