São Paulo, sábado, 13 de julho de 1996 |
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Polícia vive processo de 'privatização'
DA REDAÇÃO A segurança pública no Brasil está sofrendo uma espécie de privatização. Em várias cidades, associações de bairros nobres e empresários pagam peças e conserto de carros, constroem delegacias e até oferecem dinheiro para "completar" o salário de policiais. Em troca, querem um policiamento ostensivo.Em São Paulo, na última terça-feira, moradores dos Jardins (zona oeste) decidiram dar até dinheiro a policiais para melhorar o patrulhamento na região. Querem 50 carros e 2.000 homens em rondas. Hoje são 313. Em Mairiporã (Grande São Paulo), o dono de um restaurante diz ter dado R$ 3.200 para consertar um carro policial. Com isso, afirma, o carro "fica mais próximo do restaurante". Na serra da Cantareira (zona norte de São Paulo), os moradores construíram um portal, que dá acesso a condomínios de luxo e funciona como um posto policial. "Isso é um absurdo", afirma o secretário da Segurança Pública de São Paulo, José Afonso da Silva. "Essas pessoas estão querendo criar uma polícia de quarteirão. Se eles querem ajudar a polícia, que ajudem a instituição, e não apenas a polícia regionalizada." O ministro da Justiça, Nelson Jobim, afirma não ver problemas em a comunidade equipar a polícia. "Mas há o risco de ela passar a trabalhar para alguns indivíduos." No Rio, o programa "Meu Bairro, Minha Delegacia" visa obter R$ 11 milhões da iniciativa privada para reformar 168 delegacias. O programa foi uma iniciativa do governador Marcello Alencar (PSDB), que afirma não ter dinheiro. Em Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, a sociedade civil banca todo o custeio da polícia, menos a folha de pagamento. "As pessoas com mais poder na sociedade deveriam se empenhar para que a segurança de todos fosse melhorada, em vez de tentar criar guetos seguros", diz Nancy Cardia, psicóloga e pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da USP. "O Estado não oferece segurança para nós, e estamos nos propondo a ajudar a polícia. Isso é um exercício de cidadania", afirma Regina Di Dio, vice-presidente do conselho de moradores dos Jardins. LEIA MAIS sobre a privatização da polícia na pág. 3 Próximo Texto: Como a sociedade financia a polícia no Brasil Índice |
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