São Paulo, sábado, 13 de julho de 1996 |
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"Estão querendo polícia de quarteirão"
RICARDO FELTRIN
Para Afonso da Silva, 71, se os moradores quiserem colaborar, "que colaborem com a instituição, sem exigir contrapartida regionalizada" -o policiamento ostensivo nos Jardins. O secretário, professor aposentado da Faculdade de Direito da USP, praticante diário de ioga e meditação, é um dos principais "alvos" de deputados policiais na Assembléia, como Conte Lopes (PPB) e o coronel reformado do Exército Erasmo Dias (PPB), que ironizam sua atuação dizendo que Afonso da Silva "é um poeta". "Isso é bem pejorativo. Eles me criticam porque eu não mando a polícia matar", rebate. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista exclusiva de José Afonso da Silva à Folha. Folha - Como o sr. vê a proposta de parceria feita pelo conselho, de dar um complemento salarial e equipar a polícia nos Jardins? José Afonso da Silva -A parceria não pode ter objetivo direcionado. Eles se propõem a ajudar, mas querem um número determinado de policiais e viaturas, que eles não oferecem. Apenas pagam o conserto. Em troca, querem vantagens. É direcionamento privado da segurança. O senhor quer dizer que é como "privatizar" a polícia? Afonso da Silva -De certa forma, é uma tentativa de privatizar um serviço público, colocando-o a serviço de interesses particulares e bem específicos. Folha - O conselho alega que ampliar o policiamento na região não protege apenas os moradores, mas quem trabalha lá e mora em outros bairros... Afonso da Silva -Na verdade, estão querendo guardas de quarteirão, querem criar a polícia de quarteirão. De qualquer forma, pagar isso ou aquilo é absolutamente ilegal. Folha - E se substituíssem o "complemento salarial" por cestas básicas, isso seria ilegal também? Afonso da Silva -Li isso, parece que um coronel sugeriu. Se quiserem mandar cestas básicas, mandem para todos, para a secretaria, que as distribuirá. Folha - E se oferecerem "bicos" para os policiais da área? Afonso da Silva - Pior ainda. O bico é ilegal. Folha - Mas o sr. sabe que os policiais fazem "bicos", isso é reconhecido... Afonso da Silva - Ele não é reconhecido, não. Folha - O sr. sabe que ele existe. Afonso da Silva - Mas é ilegal. Texto Anterior: Operadores angustiados do direito Próximo Texto: "Secretário diz absurdos" Índice |
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