São Paulo, sábado, 13 de julho de 1996
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Moradores constroem posto da PM

ANDRÉ LOZANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Comerciantes e moradores da serra da Cantareira (zona norte de São Paulo) estão construindo e mantendo postos policiais e reformando carros da Polícia Militar.
Em troca, acabam determinando como deve ser feito o policiamento na região.
O dono do restaurante Recanto Mineiro, no km 8 da estrada da Roseira, na serra da Cantareira, em Mairiporã (Grande SP), Agostinho José da Silva, 45, o Zezo, disse que ele e outro comerciante da região pagaram R$ 3.200 para trocar os quatro pneus, consertar os freios e revisar a parte elétrica e o motor do Voyage de número M-26243 da PM.
"O carro da PM fica mais por esse pedaço (nas proximidades dos restaurantes) porque a gente ajudou a polícia", disse Silva.
PM porteiro
Cinco policiais militares ouvidos pela Folha -eles não quiseram se identificar com medo de represálias- disseram que o trabalho de policiamento que fazem na serra da Cantareira muitas vezes se confunde com o de porteiro dos condomínios de luxo existentes no local.
Atualmente, as associações de moradores da região, em conjunto com a Prefeitura de Mairiporã, estão financiando a instalação de uma guarita da PM em um portal na estrada da Roseira, que está passando por uma reforma. O posto policial dá acesso aos condomínios.
Antes a polícia fazia a fiscalização de um trailer, estacionado próximo ao portal.
O presidente da Associação Civil Parque Imperial da Cantareira, João Pinheiro, se recusou a dar entrevista sobre a ajuda dos moradores à PM.
A Folha ligou para a portaria do condomínio onde mora Pinheiro. O porteiro entrou em contato com o presidente da associação, que, segundo o porteiro, disse que não daria entrevista.
Dois PMs que trabalham no posto policial da serra da Cantareira disseram que não têm como autuar pequenos delitos cometidos, por exemplo, por filhos de moradores que ajudam a manter a infra-estrutura da polícia na serra.
Eles classificaram como pequenos delitos o uso de drogas e "bagunças" à noite.
Empresas de segurança
Para o presidente da Federação Latino-Americana de Segurança Privada do Mercosul, entidade que realizou ontem em São Paulo o seu 5º encontro semestral, José Luiz Fernandes, o financiamento da PM pela população "é uma questão delicada, porque privilegia bairros ricos em detrimento dos bairros da periferia".
Segundo ele, o financiamento de segurança privada -não relacionada à ajuda de custo da polícia- movimenta US$ 3,13 bilhões por ano no Mercosul.

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