São Paulo, sábado, 13 de julho de 1996
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'Rei da soja' é minoritário no novo banco

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Um namoro antigo. Assim o principal executivo do Banco Itamarati, Antônio Hermann Menezes de Azevedo, definiu as negociações da fusão da instituição com o BCN.
Para o banqueiro Pedro Conde, dono do BCN, a fusão tem um gostinho um pouco mais picante: "Quero ser a noiva cobiçada, e não a prostituta desprezada", comentou Conde com diversos interlocutores nos últimos meses, sempre que perguntado sobre uma eventual negociação com outro banco.
Pelo visto, Conde é mais que uma simples noiva. Seu banco, por ser três vezes maior que o de Olacyr de Moraes, continuará sob seu domínio. Olacyr será minoritário, com cerca de 30% das ações do BCN -marca que prevalecerá após a fusão.
"É uma questão de lógica", disse Hermann, sem dar maiores detalhes da transação, a ser divulgada hoje na sede do Itamarati.
O negócio é avaliado em R$ 1,2 bilhão. Essa é a soma dos patrimônios líquidos, principal indicador do valor de uma fusão. Segundo executivos envolvidos nas negociações, Olacyr irá manter a proporcionalidade de seu patrimônio de banqueiro no novo BCN.
Especulações
Se for confirmada essa participação, caem por terra as especulações de que o empresário estaria vendendo seu banco para fazer caixa e, assim, cobrir a dificuldades de liquidez de suas empresas.
Esses rumores circularam durante todo o dia de ontem no mercado financeiro. Segundo um diretor de um banco de investimentos, seria lógico se Olacyr desistisse do setor financeiro para concentrar seus negócios em agricultura, ferrovias e construção civil.
Ferrovia e terras não têm liquidez. As construtoras não estão recebendo do governo. A situação não é das mais fáceis, embora o "Rei da Soja", dono da Ferronorte, tenham um patrimônio invejável, resumiu o executivo.
Mas Hermann garante que isso é tudo boato. Olacyr, que tinha em mente colocar o Itamaraty entre os cinco maiores bancos do país até o final da década, percebeu que o mercado financeiro mudou e seria mais difícil para a instituição seguir sozinha, comprando outras -como fez, há dois anos, comprando o Banco Crefisul.
"A fusão é lógica para os dois lados. O BCN é mais varejista, nós temos mais força no atacado e nos investimentos. Somos complementares", argumentou Hermann.
Bamerindus
O executivo recusou-se a comentar os boatos de que o BCN estaria se preparando para uma fusão posterior com o Bamerindus, conforme reportagem publicada pelo "Jornal do Brasil".
Pedro Conde, procurado pela Folha, não quis dar entrevista. Para alguns banqueiros, Conde estaria preparando a profissionalização de seu banco, já que estaria cansado do mercado financeiro e não tem sucessor definido no BCN. Após a fusão, o BCN estaria mais fortalecido para a entrada de um terceiro sócio, provavelmente estrangeiro.

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