São Paulo, sábado, 13 de julho de 1996
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Conflitos mais sérios desde 72 ferem cem na Irlanda do Norte

Para Gerry Adams, processo de paz está "em ruínas"

IGOR GIELOW
DE LONDRES

Conflitos entre católicos republicanos, protestantes unionistas e polícia deixaram mais de cem feridos na madrugada de ontem na Irlanda do Norte.
A situação é a mais séria desde 1972, quando o Reino Unido interveio militarmente na Província.
Foi a noite mais tensa desde segunda-feira passada, quando começaram os ataques de protestantes -que queriam o direito de marchar em áreas católicas, tradição proibida inicialmente pela RUC (polícia), que temia conflitos.
Anteontem, após quatro dias de tensão, a RUC voltou atrás e permitiu as marchas. A reação republicana veio em seguida.
Em Londonderry, 50 pessoas ficaram feridas quando militantes católicos jogaram 900 coquetéis molotov contra a polícia.
Em Belfast, três policiais foram baleados -não se sabe por qual grupo, embora o caso tenha ocorrido em zona católica ao norte da capital. Um homem de 36 anos, não-identificado, está em estado grave após ter tido seu carro atingido por um coquetel molotov.
Um rapaz de cerca de 25 anos, também não-identificado, está internado com fraturas múltiplas após ter sido espancado pela RUC.
Mesmo assim, ontem ocorreram cerca de 200 marchas em toda a Irlanda do Norte. Grupos protestantes comemoraram a vitória do rei anglicano Guilherme de Orange sobre o católico Jaime 2º em 1690.
Segurança A Ordem de Orange, principal grupo radical protestante que empresta seu nome do rei, marchou pelo bairro de Lower Ormeau, reduto católico em Belfast.
Cerca de 19 mil homens, entre policiais da RUC, tropas britânicas e reforços vindos da Inglaterra, fizeram a segurança durante o dia de ontem. As marchas não registraram incidentes graves.
Os católicos da Província querem, em sua maioria, unir-se à também católica República da Irlanda, ao sul da mesma ilha.
Eles são minoria (36,4%) da população, mas alegam que a Irlanda do Norte tem fronteiras artificiais para conter uma maioria de 50,6% de protestantes pró-Reino Unido.
O Sinn Fein, partido republicano ligado à guerrilha do IRA (Exército Republicano Irlandês), disse à Folha por sua assessoria que a situação é crítica na Província.
"É o sinal de que o processo de paz está em ruínas", afirmou seu presidente, Gerry Adams.
O primeiro-ministro britânico, John Major, disse que a afirmação era "absurda". Seu colega irlandês e co-patrocinador das conversas entre partes que ocorrem em Belfast, John Bruton, também criticou a RUC e pediu diálogo.
(IG)

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