São Paulo, sábado, 13 de julho de 1996
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MAIS EQUÍVOCOS

O conhecido adágio diz que a emenda muitas vezes sai pior que o soneto. O Ministério da Indústria, Comércio e Turismo (MICT), entretanto, está promovendo uma verdadeira cacofonia com suas tentativas de justificar o injustificável: a casuística elevação da tarifa de 20% para 70% na importação de brinquedos.
Na tentativa de explicar, há dois equívocos básicos que se somam ao erro inicial. O primeiro é afirmar que a medida fica assim mesmo e que os reclamantes, como os fabricantes de brinquedos dos EUA, se quiserem, que venham ao Brasil para uma reunião conjunta com os produtores de suco de laranja, de aço, de silício e de carne para reclamar.
Trata-se de um primarismo inaceitável num ministro cuja responsabilidade é lidar com uma parte sensível das relações econômicas externas do Brasil. Afinal, ele invoca uma verdadeira guerra comercial como justificativa para uma decisão que, poucos dias antes, tentava justificar como não-protecionista.
O ministro pretende agora usar o setor de brinquedos como "arma" contra outras tantas pendências da diplomacia econômica?
O outro equívoco básico é dizer que se trata, nos brinquedos, apenas do primeiro passo numa política que atenderá a outros setores, ainda não se sabe quais. É uma tentativa de simular a existência de planos para a política comercial que até agora nem o ministro, nem o ministério, nem o governo como um todo conseguiram apresentar à sociedade brasileira ou à comunidade internacional.
Defender-se partindo para o ataque ao mundo ou defender-se prometendo proteção a outros setores são duas faces da mesma atitude que, em última análise, resume-se a não poder oferecer justificativas aceitáveis em si mesmas para a política casuísta.
Mas há também uma terceira linha, já não se pode dizer de raciocínio, mas de chicana, que consiste em ameaçar o próprio setor de brinquedos com a suspensão do privilégio recém-oferecido se houver aumento de preços. Ora, mas promover a redução da oferta doméstica não significa justamente criar condições para que a demanda, daqui a alguns meses, com as festas de fim de ano, seja "excessiva", provavelmente impactando os preços do setor?
Os equívocos parecem não ter fim.

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