São Paulo, sábado, 13 de julho de 1996
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A saúde de cada qual

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Luís Nassif abriu ontem mais uma bela confusão com seu texto sobre a CPMF. O resumo da primeira página é eloquente:
"É curiosa a visão financeira do mundo. Transferir US$ 60 bilhões a detentores de capital era fundamental à estabilidade. Transferir US$ 6 bilhões à saúde, pela CPMF, coloca em risco a estabilidade. Tenha-se a santa paciência".
Não sou adepto da CPMF, mas por motivos diferentes dos que a criticam. O governo FHC teve, até agora, ano e meio para cumprir a promessa de campanha de fazer da saúde uma de suas cinco prioridades.
Se tudo o que conseguiu inventar é esse remendo batizado de CPMF, alguma coisa está profundamente errada.
Feita a ressalva, sou obrigado a dar pelo menos alguma razão a Nassif, não sem dor d'alma, porque polemizar com ele é sempre divertido. Mas, desta vez, Nassif tem razão ao apontar como "curiosa" a visão financeira do mundo.
Eu usaria uma palavra mais forte do que "curiosa", mas vá lá. O fato é que, exceto por um punhado de marginais do pensamento dominante, ninguém dedicou ao Proer a indignação agora revelada em relação à CPMF.
Ou, visto de outra forma: há apenas alguns anos, dar dinheiro para banqueiros (por mais ressalvas que se fizessem quanto à forma) seria um pecado mortal. E dar dinheiro para a saúde (de novo, por mais ressalvas quanto à forma) seria sempre tolerável, para dizer o mínimo.
O tal de "pensamento único", hegemônico hoje, virou o mundo de cabeça para baixo, a ponto de a saúde do sistema financeiro ter se tornado mais importante do que a saúde do ser humano.
Sei que, técnica e economicamente, desabarão argumentos contra a tese de Nassif. Talvez muitos deles sejam até válidos. Mas, por trás de todos eles, prevalece a lógica de que o importante é o dinheiro, não o ser humano.

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