São Paulo, domingo, 14 de julho de 1996
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Rio da Prata pode receber ilhas artificiais

DANIEL BRAMATTI
DE BUENOS AIRES

Com o fim dos espaços disponíveis em Buenos Aires e o alto custo dos terrenos nos arredores, o rio da Prata se transformou no principal alvo da especulação imobiliária na Argentina. Para desespero dos ambientalistas, duas ilhas artificiais podem ser construídas perto da costa nos próximos anos.
Uma delas, com 352 hectares (pouco mais que o dobro do parque do Ibirapuera), abrigaria um condomínio de luxo para 20 mil moradores. A outra, ainda maior, com 550 hectares, sediaria um novo aeroporto para a capital.
Os dois megaprojetos dividem a opinião pública e os políticos. A "aeroilha", defendida com entusiasmo pelo presidente Carlos Menem, dificilmente sairá do papel sem o aval do prefeito eleito de Buenos Aires, Fernando de la Rúa, que critica a idéia.
A construção da "cidade privada", por sua vez, deflagrou uma guerra entre as prefeituras de San Isidro e de Tigre, municípios vizinhos da capital.
O projeto do condomínio foi aprovado pelas autoridades de Tigre, que, por uma lei de 1888, tem jurisdição sobre todas as ilhas da costa de Buenos Aires.
O problema é que a ilha artificial ficaria bem em frente a San Isidro, onde estão instalados os clubes náuticos mais luxuosos da região.
O prefeito da cidade, Melchor Posse, acusou seu colega de Tigre, Ricardo Ubieto, de estar incentivando a "apropriação indevida" das águas. Posse recorreu à Justiça e conseguiu paralisar temporariamente a construção. Ainda não há decisão definitiva sobre o assunto.
Poluição
Apesar de não se tratar de um projeto residencial, a idéia do aeroporto em pleno rio também envolve interesses especulativos.
A construção da ilha seria financiada com a venda do terreno que hoje é ocupado pelo Aeroparque Jorge Newbery, em uma zona nobre da cidade, perto da costa.
Menem tinha controle total sobre o projeto, mas o perdeu com a vitória da oposição na eleição municipal do penúltimo domingo, já que o terreno é da prefeitura.
Especialistas em impacto ambiental rejeitam os dois projetos, assim como o da anunciada ponte entre Buenos Aires e o Uruguai.
"O único megaprojeto de que o rio da Prata precisa é o da despoluição", disse à Folha o presidente da Sociedade Central de Arquitetos, Julio Keselman.

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