São Paulo, domingo, 14 de julho de 1996
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Bucaram interrompe série neoliberal latino-americana

NEWTON CARLOS
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Peter Allen, do Banco de Boston, diz que "Bucaram é um populista latino-americano tradicional, contrário a privatizações e à austeridade fiscal e monetária que se tornou lugar-comum no continente". O personagem em questão é Abdalá Bucaram, eleito presidente do Equador como candidato de oposição ao neoliberalismo do governo em fim de mandato.
A comunidade equatoriana de negócios, consultada pelo instituto Multiplica, prevê "intervencionismos e venalidades".
Já o "scholar" Marcelo Rom, da Universidade Central de Quito, considera o triunfo de Bucaram "voto oculto contra a política tradicional, contra velhos autoritarismos e contra a política econômica vigente". O próprio Bucaram fala em "triunfo dos pobres".
Um dos países com maior índice de miséria indígena que já representa 22% do eleitorado, o Equador se torna ponto de referência. Há muita expectativa quanto ao destino das privatizações, incluindo telecomunicações, produção de energia elétrica e sistema de previdência social.
A International Finance Corporation, braço do Banco Mundial, acaba de firmar contrato com o governo para assessorar a venda da estatal de telecomunicações, "parte do programa de ampla modernização do setor público", segundo Phillip Lietard, da IFC.
Mas na sua campanha, Bucaram prometeu vagamente "proteger as riquezas do país contra investidores privados" e aplicar "recursos maciços" em saúde e educação, além de lutar para tirar das mãos de 10% das famílias a maior parte da renda nacional. Com isso conquistou o voto indígena.
Mas o caminho à frente é de pedras. O Partido Social-Cristão, de Jaime Nebot, o derrotado, é majoritário (27 das 82 cadeiras) num Congresso todo fragmentado.
A estratégia pós-eleitoral de Bucaram é destinada a acalmar críticos e evitar alarmismos e reações internacionais negativas. Ela se choca com alianças envolvendo lideranças indígenas, esquerda, centro-esquerda e nacionalistas. Um deles, a Ação Popular Revolucionária Equatoriana, do general reformado Frank Vargas, nacionalista com certa tradição golpista.

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