São Paulo, domingo, 14 de julho de 1996
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NÃO RELAXE

Numa perversa dialética, boas notícias podem eventualmente correr o risco de tornar-se más notícias. É justamente esse o caso dos progressos no tratamento da Aids.
É inegável que a ciência médica já avançou bastante no controle da doença. Os resultados são promissores. Isso não permite, contudo, de maneira alguma, afirmar ou acreditar que a moléstia tem cura ou pode ser indefinidamente controlada.
O único remédio conhecido contra a Aids é não contrair o vírus HIV, ou seja, usar preservativos em relações sexuais, não reutilizar seringas e agulhas e exigir que o sangue para transfusões ou fabricação de hemoderivados seja devidamente testado.
O tão celebrado estudo dos cientistas David Ho e Martin Markowitz, em que pese todos os seus méritos, precisa ser contextualizado, como advertem os próprios autores.
Em primeiro lugar o número de casos (nove) é muito pequeno para tirar qualquer conclusão definitiva. Até prova em contrário, o tratamento eliminou a viremia, ou seja, a presença do vírus no sangue, e não o vírus, que pode estar em outra parte do corpo. A eliminação da viremia não é absolutamente um fenômeno inédito.
Ademais, o período máximo de controle (um ano) é ainda curto demais para garantir que o tratamento tenha eficácia duradoura. Os retrovírus, como o HIV, têm enorme capacidade de mutação.
De resto, os pacientes utilizados no estudo apresentaram infecção aguda (em que os primeiros sintomas surgem em até 90 dias depois do contágio), o que é extremamente raro.
O risco é as pessoas interpretarem mal as boas notícias que vêm surgindo e descuidarem da prevenção, por enquanto, infelizmente, o único tratamento realmente efetivo para a síndrome de imunodeficiência adquirida. Não relaxe, especialmente no uso da camisinha.

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