São Paulo, domingo, 14 de julho de 1996
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ECOS DAS TREVAS

Acostumados nos últimos anos a notícias e medidas governamentais sobretudo da área econômica, os argentinos (e também o mundo) nos últimos meses vêm sendo surpreendidos por fatos que, sem ingenuidade, poder-se-ia imaginar, senão banidos, pelo menos pouco prováveis neste fim de século.
Casos de corrupção, terrorismo e anti-semitismo são agora temas-chave do cotidiano argentino.
O governo argentino, em especial o banco central, apura um caso importante envolvendo a IBM numa licitação duvidosa. O ministro da Justiça, Rodolfo Barra, renunciou ao cargo três dias depois da publicação da denúncia de que participou de um atentado a uma sinagoga na década de 60. E a investigação sobre o atentado à Amia, entidade judaica, que nesse dia 19 completa dois anos e que deixou dezenas de mortos, continua sem esperança de esclarecimento.
A corrupção e o anti-semitismo organizado são verdadeiras sombras que se desejaria deixar para trás. Mas elas estão presentes e incomodam.
Curiosamente, ao mesmo tempo também no Brasil reabriu-se com vigor nas últimas semanas o debate sobre a guerrilha de esquerda no regime militar, sobre os limites (sempre discutíveis) das indenizações a serem pagas e até sobre os méritos ou deméritos possíveis de identificar cada lado da guerra.
Não é raro, nessas circunstâncias, provocar-se toda sorte de desconfortos políticos e emocionais. Logo irá às telas a versão cinematográfica de "O que é Isso, Companheiro", obra pioneira do hoje deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ) sobre a luta armada no Brasil.
É um passado recente, ao qual não faltaram trevas. Mas as sociedades, como os indivíduos, só amadurecem fazendo a digestão, nem sempre pacífica ou terapêutica, de traumas sombrios. Os episódios na Argentina mostram o quanto de história ainda há para reescrever.

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