São Paulo, segunda-feira, 15 de julho de 1996
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Brasil é campeão em assassinatos de homossexuais

EMANUEL NERI

EMANUEL NERI; PAULO GIACOMINI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil é campeão mundial em assassinato de homossexuais. Em 15 anos, de 1980 a 1995, foram mortos 1.242 gays, lésbicas e travestis. Para os grupos gays, esses números estão subestimados.
Luiz Mott, presidente do Grupo Gay da Bahia (GGB), acrescenta a esse número pelo menos mais um terço de mortes. "Por causa do preconceito, os parentes das vítimas escondem a natureza do crime", diz. Só este ano, segundo estimativa do GGB, foram 60 assassinatos de homossexuais.
Comparado a outros países, o Brasil é o que trata seus homossexuais com mais violência. Entre 92 e 94, foram mortos 151 homossexuais nos EUA, que tem 250 milhões de habitantes. No Brasil, com 150 milhões de habitantes, houve 180 casos no mesmo período.
A média é de um homossexual assassinado a cada quatro dias. Esses números são catalogados por grupos gays por meio de publicações na imprensa. Não há órgão oficial nem entidade de direitos humanos que cuide desses casos.
Mott condena o descaso do governo brasileiro e de entidades de direitos humanos na apuração e na denúncia desses crimes. "Somos uma minoria desprezada."
O que mais preocupa as ONGs gays é a impunidade. Dos 1.242 assassinatos, em 41% houve identificação dos autores. Apenas 10% dos assassinos foram a julgamento.
As entidades gays têm conhecimento de poucas condenações dos assassinos. "Na maioria dos julgamentos, os advogados dos criminosos alegam legítima defesa da honra para absolvê-los", diz Mott.
Um dos casos que mais chamou atenção foi o assassinato do travesti Brenda Lee, em São Paulo (SP), em 29 de maio. Lee mantinha uma casa de apoio para pacientes de Aids desde 1988. Gilmar Felismino confessou ter matado o travesti depois de Lee ter descoberto que ele havia adulterado um cheque. Os dois mantinham um relacionamento, segundo testemunhas.

Colaborou Paulo Giacomini

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