São Paulo, segunda-feira, 15 de julho de 1996
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Para dirigente, país pobre pode ser sede

ANDRÉ FONTENELLE
DO ENVIADO ESPECIAL A ATLANTA

Para Juan Antonio Samaranch, cidades de países em desenvolvimento têm condições de organizar Olimpíadas, apesar dos elevados gastos.
(AFt)
*
Folha - O sr. afirmou várias vezes que os Jogos Olímpicos dependem do dinheiro dos patrocinadores e da televisão, e vice-versa. Essa dependência não é perigosa para o futuro do movimento olímpico?
Samaranch - Os patrocinadores e a televisão são uma parte importante das fontes de financiamento, que contribui para o desenvolvimento do esporte no mundo.
Não acho que essa relação seja perigosa, enquanto mantiver como objetivo vir em auxílio à promoção do esporte e da atividade física, e enquanto o controle do esporte continuar nas mãos de seus dirigentes. O COI zela, no que lhe diz respeito, para que esse objetivo esteja sempre em primeiro plano.
Folha - Os Jogos Olímpicos não se tornaram pesados demais, caros demais para organizar?
Samaranch - Os Jogos são o maior festival esportivo do mundo, que reúne os melhores atletas de cada esporte.
São, igualmente, um evento cultural e social de primeiro plano, que suscita cada vez mais interesse junto às diversas cidades que se candidatam a organizá-los.
Organizar os Jogos Olímpicos permite à cidade-sede desenvolver suas infra-estruturas, promover o esporte em todos os países e oferecer ao mundo uma imagem e uma identidade cultural próprias.
Por outro lado, graças aos rendimentos provenientes dos programas de marketing e da venda dos direitos de televisionamento, as cidades financiam com sobras a organização dos Jogos.
Folha - Isso compromete as chances dos países de Terceiro Mundo de organizar os Jogos?
Samaranch - Não, não acredito. Várias cidades de países em desenvolvimento têm o potencial e a capacidade necessários para isso.
Folha - Quais são, em sua opinião, as vantagens e desvantagens da candidatura do Rio de Janeiro a abrigar os Jogos de 2004?
Samaranch - O Rio tem, certamente, bons trunfos, nos quais deve apostar em seu dossiê.
Folha - O sr. já qualificou como "muito fortes" as candidaturas da Cidade do Cabo e de Roma. Isso significa que elas saem favoritas nessa corrida?
Samaranch - Não, todas as cidades têm trunfos. O COI decidirá em função do dossiê, tal como for apresentado e examinado no local pela comissão de avaliação. Além disso, eu, pessoalmente, não voto.
Folha - Depois dos Jogos de Atlanta, qual é o seu futuro à frente do COI?
Samaranch - Continuarei a trabalhar pelo desenvolvimento do esporte até o fim de meu mandato, em setembro de 1997. Ainda não decidi se me candidatarei de novo a outro mandato.
Folha - Se o sr. deixasse o COI hoje, que balanço faria de sua gestão?
Samaranch - Não cabe a mim julgar meu trabalho, mas ao movimento olímpico. No que me diz respeito, tive um prazer enorme em trabalhar à frente do COI pela promoção do esporte e pela unidade do movimento olímpico. Tive a sorte de dirigir uma organização internacional como o COI.
Folha - A Coréia do Norte foi o último país a confirmar sua presença nos Jogos. Isso se deveu aos esforços do COI ou o ex-presidente norte-americano Jimmy Carter usou sua influência, como deu a entender?
Samaranch - O COI convidou os 197 comitês nacionais aos Jogos. A Coréia do Norte é um deles. Estamos felizes por ela ter aceitado nosso convite.
Folha - O sr. ainda acredita na idéia de uma trégua olímpica?
Samaranch - Num mundo em que as desigualdades econômicas e os conflitos políticos são crescentes, o esporte é uma verdadeira força social que consegue obter a unanimidade e reunir os esportistas do mundo inteiro em torno de uma mesma paixão, acima de qualquer obstáculo cultural, religioso ou político.
Esse poder conciliatório foi reconhecido pela Assembléia Geral das Nações Unidas, que já adotou resoluções apoiando a idéia de uma trégua olímpica e reconhecendo a contribuição do esporte à edificação de um mundo pacífico e melhor.
Folha - O sr. espera que o COI obtenha um assento na ONU ou o Prêmio Nobel da Paz?
Samaranch - O COI não precisa de estatuto junto à ONU. O COI é um órgão centenário.

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