São Paulo, segunda-feira, 15 de julho de 1996
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Teimosia, não

JUCA KFOURI

Em 1994 o técnico Carlos Alberto Parreira insistiu o quanto pôde com Raí, para desespero de Zagallo.
Parreira acabou cedendo, mas tinha razão. Raí vinha de ser o principal jogador brasileiro durante dois anos seguidos, era o capitão do time e o ponto de equilíbrio da seleção. Mas vivia problemas de adaptação ao futebol francês.
Quando, a contragosto, Parreira tirou Raí, Zagallo sorriu. Também ele tinha suas razões e o próprio Raí aceitou sem reclamar, como é de seu feitio.
A fixação justificável de Parreira em Raí tem seu repeteco agora com Zagallo insistindo com Juninho, evidentemente em fase de transição, mudado por sua primeira temporada no futebol inglês.
Contra o combinado da Fifa, mais uma vez, Juninho foi o jogador de atuação mais fraca na seleção, apesar de alguns repentes dignos de quem certamente não esqueceu tudo o que sabe, que não é pouco.
E Bebeto seria de maior valia no lugar de Juninho, que poderia perfeitamente abrir vaga para aquele que o país inteiro quer no comando do ataque brasileiro, já que Romário foi esnobado. O nome dele: Ronaldinho.
Inegável, vale repetir sempre, que o time montado por Zagallo é muito bom e favorito ao ouro. Só que pode ser melhor com a definição de Ronaldinho como titular.
Se a Bebeto está reservada a tarja de capitão e o papel de líder da equipe, mais motivo há para pô-lo na zona de inteligência do jogo, onde sua experiência falará mais alto.
Além do mais, Ronaldinho poderá ser a opção de jogo aéreo no ataque brasileiro que, sem dúvida, com Bebeto e Sávio, só joga pelo chão.
Convenhamos que Zagallo não está mais na idade de ser teimoso, por mais que digam que quanto mais velho nós ficamos mais teimosos fiquemos. Mas ele já ganhou tudo a que tinha direito, não precisa provar nada, não tem por que insistir em remar contra maré só pelo prazer de mostrar quem manda -o que, de resto, ninguém discute.
Será tão simples fazer de Ronaldinho titular e guardar Juninho como arma que os deuses olímpicos hão de iluminar Zagallo até a estréia.
Porque um time que enfrenta com tanta soberania o monte de craques que a seleção derrotou em Nova Jersey, merece não entregar o ouro para os bandidos.
Aliás, como fica bonito o futebol quando a bola é o objetivo e não o corpo adversário. E como o argentino Redondo se dá bem com a redonda.

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