São Paulo, segunda-feira, 15 de julho de 1996
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Desacelere e diga 'oh yeah' para o Beck

ERIC WEISBARD
DA "SPIN"

Para Beck, tudo é fácil. O mundo anda abanando o rabo para ele. Nosso primeiro encontro é no restaurante Sansui, em Los Feliz, Los Angeles, o bairro onde Beck mora.
Beck dá risadas curtas que acabam antes de você sequer perceber que ele riu. Seus famosos olhos arregalados têm um hábito de ficar olhando por muito tempo.
Quando alguém tenta lhe forçar a cumprir alguma obrigação profissional, e ele quer fugir, diz "oh yeah"; quando está interessado em alguma coisa, diz "oh yeah". E a diferença entre os dois é muito evidente, desde que você tenha desacelerado seu ritmo para acompanhar o dele. É um pouco como ler Gertrude Stein.
"Odelay" é tudo no universo sem jamais ser outra coisa senão Beck. Plana sobre batidas hip-hop quase consistentes e "gagueja" por meio de segmentos que misturam estilos, como num desenho animado. Cada faixa tem sua própria música-instalação: "Eu queria fazer músicas em que as pessoas pudessem entrar. Existe um cenário, e você mais ou menos entra e cria sua história". Uma batida Beatles é atualizada para uma coisa acid-jazz.
A gente fica se perguntando quem é esse sujeito de 26 anos, capaz de absorver tanta coisa e cuspi-la de volta com sua assinatura embaixo. Beck sabe criar frases, e dizem que muitas de suas letras são criadas na hora. Resumindo o verão que passou no Lollapalooza 95: "Um churrasco prolongado".
Beck conta que, quando mixou "Odelay", seu estúdio ficava no meio de dois outros. Num estava o Black Sabbath, e no outro, os Muppets ("eu era o recheio do sanduíche"). Os Dust Brothers (banda de apoio) e ele grampearam os dois estúdios e contrabandearam os resultados para o álbum deles, "num nível subliminar".
Para Beck, o hip-hop primordial é música folk da tradição, que vem acompanhando desde que tinha 14 anos e frequentava colecionadores de discos de 78 RPM.
Em 95, Beck enfrentou a morte de várias pessoas próximas, começando por Jac Zinder, primeiro crítico de música a escrever sobre ele. No outono passado, quem morreu foi seu avô, Al Hansen, um artista de performances da escola de pop-art experimentalista dos anos 60, chamada Fluxus.
Mas Beck observa que o ciclo de acontecimentos desse ano parece ser mais de casamentos e nascimentos do que de mortes. O futuro dirá se o relacionamento com sua namorada (eles vivem juntos) vai entrar nessa categoria.

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