São Paulo, segunda-feira, 15 de julho de 1996
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O caldeirão paulista

JOSIAS DE SOUZA

São Paulo - Dois estereótipos rondam a cidade de São Paulo: diz-se que é preconceituosa e conservadora. Tais conceitos têm dois elementos em comum: 1) Difundidos à saciedade, parecem expressão da verdade; 2) São falsos.
Observe-se a galeria de retratos dos últimos prefeitos da cidade. As fotos exibem mais do que caras e bocas. Expõem uma São Paulo nada convencional.
O paulistano esteve na bica de dar a cadeira de prefeito a Fernando Henrique. Terminou entregando-a a Jânio Quadros. O novo estava embutido na opção pelo velho.
Vencido o susto, as provetas eleitorais de São Paulo produziram novidade ainda maior: uma prefeita. Além de mulher, nordestina. Um espanto.
Não foi obra exclusiva de paus-de-arara. O Nordeste que vive às margens do Ipiranga ajudou. Mas não fosse o desejo do paulistano autêntico, Luíza Erundina continuaria no ostracismo.
São Paulo voltou a transformar velho em novo ao eleger Paulo, o pertinaz -numa fase em que nem dona Maria Maluf apostava mais no filho.
A atmosfera "desideologizada" que se seguiu à queda do Muro de Berlim produziu, aos olhos de São Paulo, um Maluf diferente daquele que, surrado por Tancredo Neves, especializara-se em perder eleições.
Súbito, a última pesquisa Datafolha, divulgada ontem, informa que nova surpresa pode estar sendo temperada no caldeirão eleitoral paulista. Amparado pelo prestígio deste novo Maluf, "neoprobo", Celso Pitta já soma vistosos 17%. Está embolado na segunda colocação, empatado com José Serra.
O sucesso de Pitta reforça a sensação de que é injusta a pecha que se grudou em São Paulo. Depois de eleger um amalucado com fama de bom de copo, uma sertaneja petista e um ex-espectro do mau, o paulistano emite sinais de que não exclui a hipótese de acomodar um negro na prefeitura.

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