São Paulo, segunda-feira, 15 de julho de 1996
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DESNORTEIO ELEITORAL

Na proximidade de eleições, a tentativa de atender a interesses ou pressões de setores específicos da opinião pública parece estar conduzindo diferentes mandatários a decisões altamente duvidosas.
Depois de aprovarem lei pela qual pretendem impedir que empresas de outras nações tenham negócios em Cuba, os EUA suspenderam o visto do presidente da Colômbia.
A primeira medida foi condenada pelo G-7 (que reúne EUA, Japão, Alemanha, França, Grã-Bretanha, Itália e Canadá), pela OEA (Organização dos Estados Americanos) e considerada de modo praticamente unânime como ofensiva ao direito internacional. Parece óbvio que um Estado não pode ter a pretensão de legislar sobre os negócios entre dois outros países.
A suspensão do visto a um presidente em exercício também foge ao bom senso. Afinal, ainda que o tesoureiro de campanha de Samper tenha admitido que recebeu contribuições do narcotráfico, o presidente foi absolvido da acusação no Congresso. O veto procura, isto sim, conter a acusação oposicionista de que Clinton não seria duro com o tráfico.
Pode-se fazer uma analogia com a atitude do ex-primeiro ministro Shimon Peres. O estadista israelense foi um dos principais artífices do processo de paz com os palestinos. Para aplacar pressões de radicais contrários à paz, porém, enredou-se, na véspera eleitoral, em ataques contra o grupo terrorista Hizbollah. Terminou por bombardear um campo de refugiados da ONU, ação na qual morreram cerca de cem civis. E ao final, não conseguiu reeleger-se.
As pesquisas mostram Bill Clinton como favorito para as próximas eleições presidenciais. Não se trata aqui de fazer previsões. É inevitável, porém, que, além da crítica ao conteúdo, ponha-se em dúvida a eficácia eleitoral de se bandear à última hora para os argumentos de oposições, por vezes chauvinistas ou extremistas. Em vez de ganhar pontos, tais governantes se arriscam a perder credibilidade internacional.

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