São Paulo, segunda-feira, 15 de julho de 1996
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Acácio triunfante

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Muito boa a matéria de capa do Mais! que circulou ontem. Euclides da Cunha, depois ou ao lado de Machado de Assis, é o que temos de melhor como produto cultural. O modernismo cometeu alguns crimes, um deles foi tentar um cerimonioso boicote a Euclides, considerando-o uma espécie de Coelho Neto do ensaio. Pior do que crime, foi uma bobagem.
Das cartas de Euclides que o Mais! destacou, lembro o trecho que fala no "Acácio triunfante", praga sociológica e política que nos chegou de Portugal, como a cerveja preta, os tremoços e os tamancos -tudo fora de moda, pelo menos até certo tempo atrás.
O "tucanato" ainda não ressuscitou os tamancos, os tremoços e a cerveja preta, mas nos trouxe de volta os Acácios triunfantes -o maior deles instalado na presidência da República.
É impressionante o entusiasmo com que FHC declara o óbvio. Os ministros, em sua maioria, seguem o modelo do chefe. Adoram dar entrevistas, juram que não subirão nos palanques, que as verbas do governo não ajudarão os candidatos amigos, garantem que o Brasil é um país novo porque eles estão no poder. O novo deles é o mais velho dos nossos vícios: a verborragia acaciana.
O presidente da República chegou ao ponto de atribuir à oposição um pacto com o regime discricionário. Tal como em "Acácio", é fazer o adjetivo virar substantivo. Esquematizando o regime totalitário que tivemos, duas pernas o levarão ao plano da história: a repressão política que abusou da tortura e a concentração de renda que produziu a economia mais injusta do planeta.
O neoliberalismo de FHC ainda não pode ser acusado de torturador. Mas em matéria de concentração de renda bota o regime militar no chinelo.
No mais, o governo está espalhando uma espécie de "Brasil, ame-o ou deixe-o". Não nos é estranho esse slogan, que, afinal, parece redigido pelo conselheiro Acácio.

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