São Paulo, terça-feira, 16 de julho de 1996
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Doente receberá droga anti-HIV de graça

LUCIA MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 300 portadores do vírus da Aids brasileiros vão receber gratuitamente dois medicamentos de última geração durante seis meses. A distribuição deve começar no mês que vem.
O "protocolo de compaixão" -como é chamada a distribuição gratuita de medicamentos para doentes terminais- será feito pelos laboratórios Roche (saquinavir) e Merck Sharp & Dohme (indinavir).
Os dois medicamentos são inibidores de protease e interferem na última fase da multiplicação do vírus HIV. Os remédios serão entregues aos centros de referência de Aids que hoje já testam esses medicamentos em alguns pacientes.
O saquinavir será fornecido para 260 doentes em São Paulo, Rio, Minas, Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Sul, e o indinavir, apenas para 50 doentes de São Paulo.
Custo
A escolha dos doentes será feita pelos hospitais responsáveis pelas pesquisas. Será dada prioridade para doentes mais graves.
A distribuição dos medicamentos ainda tem que ser aprovada pela comissão de ética dos centros de referência de Aids.
Se os 310 pacientes fossem comprar os remédios durante seis meses, eles gastariam cerca de R$ 837 mil. "Esse é um gesto de boa vontade dos laboratórios. Seria bom se outros laboratórios também fizessem o mesmo", afirma o infectologista David Uip, do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Primeira vez
É a primeira vez que laboratórios vão distribuir gratuitamente remédios para doentes de Aids brasileiros, segundo David Uip. Nos Estados Unidos, essa é uma prática corrente.
Os três inibidores de protease (indinavir, saquinavir e ritonavir) foram aprovados pela FDA, a agência norte-americana que regula medicamentos. Os três têm apresentado ótimos resultados no combate ao vírus HIV nos primeiros meses de tratamento.
Combinados com outros medicamentos -chamado de "coquetel de remédios"-, eles podem reduzir o número de vírus no organismo de um portador em até 90%, segundo Uip.
Hoje, o Ministério da Saúde não distribui nenhum inibidor de protease. Há planos de importação de um dos três medicamentos -que seria escolhido pelo menor preço-, mas o governo ainda não conseguiu dinheiro para isso.
Este ano, o governo precisa gastar R$ 117 milhões com a compra dos medicamentos antivirais, incluindo um inibidor de protease.
O tratamento de doentes com um inibidor aumenta o custo por paciente em cerca de R$ 6.000/ano, segundo o ministério.

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