São Paulo, quinta-feira, 18 de julho de 1996
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Raptem-me, alienígenas

MOACYR SCLIAR

"Prezados alienígenas: dirijo-me a vocês na qualidade de executivo desempregado, com muitas dívidas e vários problemas a resolver. É o seguinte: como vocês já devem saber -alienígena sabe de tudo, não é mesmo?-, aqui na Terra, mais especificamente nos Estados Unidos, a pátria do ET, é possível fazer um seguro contra sequestro por alienígenas. Mediante o pagamento de US$ 19,95, uma companhia de seguros garante US$ 10 milhões para o sequestrado.
Bem, minha proposta é a seguinte: você me sequestram, e nós rachamos os US$ 10 milhões. Essa quantia, caso vocês não estejam em condições de avaliá-la, é bastante significativa (se fosse em reais, seria melhor ainda, mas nem tudo que é bom vem em moeda forte). Com US$ 5 milhões vocês podem fazer muita coisa. Podem, por exemplo, comprar uma espaçonave nova, desse modelo que o filme 'Independence Day' está mostrando. Você podem recrutar, em Marte ou em qualquer outro planeta, dezenas de homenzinhos verdes, com antenas e tudo, prontos para dizer: 'Levem-me a seu líder'. Vocês podem até contratar o Spielberg para produzir, senão um filme de guerra espacial, pelo menos um curta-metragem.
Já para mim os US$ 5 milhões que sobram viriam a calhar. Posso pagar todos os meus credores; posso viver tranquilamente o resto dos meus dias. Enfim, um grande negócio para as duas partes. Um negócio que expande o conceito de globalização a limites nunca alcançados.
Estou, portanto, aguardando a chegada de vocês. Espero acordar esta noite com aquela luz fortíssima a iluminar o meu quarto, e a nave flutuando no ar em frente à minha casa. Direi adeus à minha mulher, embarcarei e nunca mais voltarei.
E onde quero ir? Bem, vocês podem me deixar num planeta à escolha de vocês. Com US$ 5 milhões no bolso vocês podem estar seguros que me viro em qualquer lugar.
PS - O seguro é ainda maior (US$ 20 milhões) se vocês me devorarem. Peço, contudo, que evitem essa tentação. Ela não é conveniente para mim. Nem para vocês. Acreditem, cara indigesto está aqui mesmo."

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