São Paulo, quinta-feira, 18 de julho de 1996
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O caso Bamerindus

LUÍS NASSIF

Está havendo confusão nessa história entre Banco Central e Bamerindus. Tratou-se como "acordo" mera autorização do BC para um projeto de recapitalização do banco, no qual os recursos em jogo são exclusivamente dos controladores da instituição.
O Bamerindus necessita se capitalizar. Tem em sua carteira determinado volume de créditos em liquidação ou de difícil recebimento. O banco é controlado por uma holding, que, por sua vez, controla uma seguradora rentável e de alto valor.
Dentro do processo de reestruturação, os controladores da holding decidiram "vender" ao banco a seguradora e créditos securitizados da extinta Sunamam, em troca dos créditos "podres" da instituição.
Ou seja, os controladores ficam com dinheiro mau e colocam no banco dinheiro bom.
A operação melhora a situação do banco e acena para o mercado que seus controladores apostam na sua recuperação -se não apostassem, em lugar de aportar bens, tratariam de desviar patrimônio.
Ocorre que, pela legislação bancária, o BC precisa aprovar qualquer venda de ativos de bancos para fora do sistema -mesmo os ativos sejam créditos "podres".
Se há ou não "acordo", não passa dessa formalidade do BC para que a operação seja concretizada.
A segunda etapa da reestruturação consistirá na tentativa do Bamerindus de vender sua carteira de crédito imobiliário para a Caixa Econômica Federal. Aí é negociação entre ele e a CEF, provavelmente já iniciada, sem mediação do BC.
Se tais medidas reverterem o clima de desconfiança dos correntistas, se o Bamerindus parar de ser alvejado por notícias e boatos e os saques forem estancados, o banco se safa da crise sem Proer.
Se não reverterem, aí, sim, as negociações passarão a uma esfera em que não se descarta a hipótese de fusões ou incorporações.
Produtividade
Principal centro de qualidade do país, a Fundação Christiano Ottoni, de Minas Gerais, tem uma metodologia racional de medir aumentos de produtividade -que deveria ser mais bem entendida por quem sustenta que a produtividade no país cresce 7% ao ano.
Em geral, o que esses analistas fazem é dividir o volume de produção pelo número de funcionários.
Esse critério não leva em conta nem custos com terceirizações nem investimentos em automação.
Suponha que determinado departamento custe cem para a empresa. Aí, ela terceiriza uma parte e paga 40 para o fornecedor; investe em equipamentos, que vão lhe custar 35 por ano, e desativa o departamento.
Pelo critério usualmente utilizado, o ganho de produtividade da empresa foi da ordem dos cem que ela deixou de pagar em salários.
Pelo critério correto, se a empresa economizou cem de um lado, mas passou a gastar 75 de outro, o ganho foi de 25.
Todas as contas utilizadas pelo BC para convalidar a atual política cambial só levam em conta os ganhos com redução de pessoal. Não os novos custos de terceirização de investimentos.
Soluço de junho
É curioso. Desde março, a economia vinha ensaiando uma recuperação tímida. De repente, em junho, praticamente todos os setores sentiram refluxo nas vendas, de assinaturas de publicações a automóveis e tratores.
Em julho, as vendas estão retomando o ritmo normal, com os descontos para o período de férias.
Não há explicações convincentes para esse soluço. Para alguns empresários, a paradeira se deve à greve geral, que alertou os consumidores para a perspectiva de desemprego. Esse receio os teria tornado mais cautelosos.

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