São Paulo, quinta-feira, 18 de julho de 1996
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Política e sexo definem os limites do esporte

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, está se formando um coro nacional pelo Ronaldinho.
Brasileiro é assim mesmo: enche-se de encanto por um jogador -e o Ronaldinho, como diz o Simão, parece da turma da Mônica- e quer o dito na seleção de qualquer jeito.
Digamos que, na teoria (lembre-se que teoria, em futebol, é tudo aquilo que a bola desmente) Sávio dá conta do Japão. Depois...
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O iééé Whea subiu ontem ao palco armado no San Siro para cantar ao lado de Youssou N'Dour e Salif Keita pela paz no seu país, a Libéria.
Sempre complicadas as relações entre esporte e política, mas, no caso do Whea, ele usa o seu prestígio internacional em uma causa justíssima.
Além disso, George Whea lembrou Bob Marley, que adorava bater a sua bolinha. Como diz aquela letra brasileira, Bob Marley continua dizendo até breve. E não adeus.
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A situação física limítrofe da judoca peso-pesado brasileira Edinanci Silva proporciona, involuntariamente, o questionamento das balizas que regulamentam o esporte.
Se ela não for considerada mulher, para o esporte, o que será na vida fora das competições? Deverá competir entre os homens, ou não poderá competir nunca mais?
Quem define o sexo de uma pessoa? Os exames de laboratório? A anatomia dos órgãos genitais? Os regulamentos de uma modalidade esportiva?
O esporte está sempre sendo confrontado com os limites da experiência e do corpo humano. Questões políticas, quase sempre, colocam em suspensão algumas determinações internas da lógica esportiva.
A questão sexual será, cada vez mais, incorporada às discussões esportivas. Nos EUA, já é bastante expressiva a quantidade de pessoas que participam de jogos e torneios exclusivos para homossexuais.
Edinanci, na sua simplicidade complexa, na época em que a mulher expande extraordinariamente a sua participação no esporte, traz junto a seu corpo ambíguo uma questão que estará cada vez mais presente nas competições esportivas, daqui para frente.
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Atlanta não é só louca pela Coca-Cola, mas também por pêssegos, como escreveu o Mauricio Stycer.
Ele mesmo ofereceu uma receita de coquetel de pêssego, um tal de Peach Alexander, que não despertou em mim a menor curiosidade etílica.
Se você quer entrar no clima total de Atlanta, nesses dias, Joãozinho, faça como o torcedor do Barretos Bull's, David Drew Zingg (que carrega até o copo adequado, importado de Veneza, para essas ocasiões): vá até o bar do restaurante Fasano, acotovele-se no balcão e peça um autêntico Bellini, tal como foi concebido pelo Harry's Bar, de Veneza.
Esta simples e cultuada combinação de prosecco (ou champanhe) com suco de pêssego valerá mais para você afogar sua mágoas ou tornar líquida as suas alegrias nesta Olimpíada do que todos os bares da incontáveis ruas do pessegueiro, lá na Geórgia "oh! my mind", como canta o Ray Charles.
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Estou convencido que Vanessa Menga bate sua bolinha.

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