São Paulo, quinta-feira, 18 de julho de 1996
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Gaetano Pesce abre show-room em SP

CELSO FIORAVANTE
DA REDAÇÃO

O designer e arquiteto italiano radicado em Nova York Gaetano Pesce está no Brasil por dois motivos. O primeiro é dar os retoques finais na parceria que estabelece com a designer Adriana Adam para a criação de um show-room para a comercialização de seus produtos mais acessíveis.
Com 37 anos de carreira, esse italiano de La Spezia, na costa lígure italiana, está com uma grande exposição retrospectiva -"Le Temps des Questions"- no Beaubourg, em Paris, até 7 de outubro. Seus trabalhos frequentam ainda os acervos do MoMA e Metropolitan, entre outros.
"O show-room terá os seguintes conceitos: produtos para jovens, com materiais inovadores, avançados e a baixo custo", disse Gaetano Pesce em entrevista à Folha. Pesce também comentou as linhas básicas de toda a sua produção.
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Folha - Você prega o discurso do "malfeito", em que produtos de design podem ser realizados por mão-de-obra não especializada. Isso não vai totalmente contra o mercado?
Pesce - O discurso do "malfeito" é muito simples e tem um fundo social. É verdade que todos os países do mundo reclamam do desemprego, mas esse é um problema sem solução, já que a tecnologia avança para que o homem se livre do trabalho mais duro.
Então me coloquei a questão: "Como eu, como arquiteto, designer e pessoa criativa, posso ajudar a resolver esse problema?" Como projetista, tenho capacidade de pensar que ele seja executado não de maneira pobre, mas de maneira extremamente expressiva.
Folha - Mas o objeto não perderá a "aura" de seu criador, esse dado absolutamente importante para o mercado?
Pesce - O objeto manterá sua aura se, além de ter uma dimensão utilitária, preservar também uma dimensão cultural. É o momento em que a arte fica mais complexa. Assim como era no Renascimento. A arte tinha duas dimensões: uma prática e uma cultural.
A utilidade da arte lhe dava uma verdade necessária para viver. Eu sempre me referi a uma arte do passado quando ela tinha essas duas dimensões.
Em 1968, fiz uma poltrona com a forma de um corpo de mulher ligado a um pufe para apoiar os pés. Quem usava esse móvel não apenas se sentava comodamente como também tinha a possibilidade de ler a imagem de uma mulher presa a preconceitos.
Aquele objeto era portador de uma imagem política. Existem outros exemplos em que meu modo de desenhar objetos ou arquiteturas são sempre portadores de um duplo significado.
Folha - O desenvolvimento de novos materiais é tão importante quanto a mão-de-obra?
Pesce - Trabalho apenas com materiais dos nossos dias, pois acredito que são os mais avançados em relação aos materiais tradicionais. Sempre usei resinas, como poliuretano e silicone. Quero mostrar que são produtos econômicos e com grandes qualidades, quando bem utilizados.
Folha - Existe um campo ao qual seu discurso se ajusta mais?
Pesce - Não. Pode ser aplicado em qualquer campo de criatividade. A criatividade não termina em si mesma. Ela tem a função de ser útil à sociedade e ao seu tempo.
Folha - Sua produção tem uma preocupação política ou estética?
Pesce - Política, estética e social, pois meu trabalho não é solitário. A crítica que faço a muitos arquitetos, designers e artistas é que eles fazem monumentos a si mesmos.
Eles esqueceram que a sua atividade deveria ser um serviço à sociedade. E isso muitos criadores hoje esqueceram. Nosso trabalho deve ser útil aos outros.
(CF)

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