São Paulo, quinta-feira, 18 de julho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Banda Electronic volta após seis anos

PATRICIA DECIA
DE NOVA YORK

"Electronic é Bernard Sumner do New Order e Johnny Marr do Smiths", avisa o selo em "Raise the Pressure", novo álbum da banda/dupla, lançado nos EUA.
Dois dos mais importantes músicos ingleses das últimas décadas, Sumner e Marr voltaram a gravar juntos depois de seis anos do lançamento do primeiro CD, que tinha participação especial dos Pet Shop Boys. Desta vez, o músico convidado é Karl Bartos, da banda alemã Kraftwerk.
Em entrevista à Folha, eles falam sobre guitarras, sintetizadores, os anos 80, "britpop" e Joy Division.
*
Folha - Como é para um guitarrista como você tocar numa banda tão cheia de sintetizadores, voltada para a dance, como o Electronic?
Marr - Não consigo lembrar de outros guitarristas diretamente envolvidos com baterias eletrônicas e sintetizadores, o que quebra o modelo do guitarrista como o conhecemos. Isso nos coloca numa nova década, numa nova filosofia. Para mim, é um grande desafio.
Folha - Como resolveram tocar com Karl Bartos?
Marr - Um amigo nosso de Manchester conhecia Karl Bartos e fez a conexão. Karl vem de um passado pouco usual. Começou tocando música clássica na orquestra sinfônica de Dusseldorf. Há uma grande diferença entre ele e Neil (Tennant, do Pet Shop Boys), que é letrista e cantor. Karl trouxe uma objetividade e uma atitude diferentes, foi uma contribuição de produtor.
Folha - Vocês foram chamados de "tios do britpop". O que acham dessa cena?
Sumner - Acho que é um pouco retrô. Nós estamos interessados em coisas mais novas. Nada contra essas bandas, não estou detonando o que eles fazem, mas realmente não me ligo na reinterpretação de uma velha fórmula.
Marr - Na verdade, nós não nos importamos.
Folha - Vocês não vêem influências da sua música nessas bandas?
Marr - Oasis e Suede são muito generosos em me dar crédito por influenciá-los, o que é um grande elogio, mas eu não vejo isso exatamente na música.
Folha - Qual sua opinião sobre os anos 80?
Marr - Acho que os anos 90 são mais de mente aberta, uma década muito mais interessante musicalmente que a de 80. Obviamente, para mim, os anos 80 foram ótimos. Mas, porque estava numa banda, não posso falar de outras, pois achava que todas eram lixo. Além dos Smiths, só gostava de New Order e Pet Shop Boys. Quando outros discos saíam, eu pensava: não é tão bom quanto o nosso.
Folha - E o Morrissey?
Marr - As pessoas me perguntam sobre ele, mas não quero parecer mal-educado ao responder.
Folha - Você pretende voltar a tocar com o New Order?
Sumner - Não tenho planos de voltar a tocar com o New Order. A política da banda não funciona mais. Eu não acho mais atraente tocar com eles. O grande problema é que a banda perdeu a unidade.
Folha - No livro da Debora Curtis, ela conta que você estava sempre atrasado para os ensaios do Joy Division e, por isso, Ian Curtis mandou abaixar o volume da sua guitarra, deixando o baixo em primeiro plano. É verdade?
Marr - É verdade, ele está sempre atrasado (risos).
Summer - É por isso que você vira músico, para ter liberdade (risos). É uma longa história. Ian estava de saco cheio porque eu não morava na mesma cidade e demorava uma hora para chegar até o local dos ensaios. Na verdade, minha guitarra era muito alta, para ficar distorcida. E ninguém conseguia ouvir o que estava tocando.

Texto Anterior: Gaetano Pesce abre show-room em SP
Próximo Texto: Falta energia à velha dupla
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.