São Paulo, quinta-feira, 18 de julho de 1996
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Pharoah Sanders reencontra o sucesso

Saxofonista sai do ostracismo que viveu nos anos 70 e 80

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM MONTREUX

Com suas barbas brancas, ele parece um feiticeiro saído de uma longínqua tribo africana. Atração da madrugada de ontem, no Montreux Jazz Festival, o saxofonista americano Pharoah Sanders, 55, mostrou que a intensidade sonora dos anos 60 continuam orientando sua música.
Transformado em celebridade instantânea ao integrar a banda de John Coltrane durante sua fase mais radical (1965-1967), Sanders atravessou as décadas de 70 e 80, no mais absoluto ostracismo.
Porém, com o álbum "Message From Home" recém-lançado pelo selo Verve, ele parece decidido a retomar o contato com um público maior e mais jovem.
"Bill Laswell, que produziu o disco, me ajudou a escolher ritmos que agradam aos jovens de hoje", disse Sanders à Folha, horas antes de seu concerto em Montreux.
"Percebi que é possível continuar criando música séria e, ao mesmo tempo, incluir ritmos que permitam à platéia se divertir, até mesmo dançar", explica.
Sanders usou essa fórmula ontem. Após uma hora de improvisos frenéticos, na melhor tradição do "free jazz", ele surpreendeu a platéia com um calipso dançante.
Lacônico e ensimesmado, Sanders não se mostra disposto a falar sobre qualquer assunto. A menção ao cenário atual do jazz, dominado por um "revival" do "bebop", não o anima. "Não tenho soluções a oferecer", justifica.
O ônus de sua carreira estar inevitavelmente associada à figura mítica de Coltrane, a quem os críticos sempre compararam seu estilo, também é tema evitado. "Nunca tive problemas com isso", diz.
Melhor falar sobre a música brasileira, tema que consegue arrancar um sorriso do norte-americano. "Adoraria formar uma banda com percussionistas brasileiros. Não guardo nomes, mas gosto de vários. Acho que eles estão entre os melhores do mundo", diz.
Já sobre sua experiência com músicos de jazz-rap, incluída no álbum "Stolen Moments - Red Hot & Cool", Sanders é bem menos eufórico. "Alguém me ligou convidando e aceitei. Até hoje não tive tempo de ouvir o resultado."
Quanto ao fato de ter novamente um disco seu nas grandes lojas, ou estar tocando novamente nos principais festivais de jazz, Sanders se mostra satisfeito.
"O melhor de tudo é que eles (do selo Verve) nunca tentaram me dizer o que eu devo tocar, algo que jamais aceitei", diz.

O jornalista Carlos Calado viaja a convite das gravadoras EMI, PolyGram e Wea.

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