São Paulo, quinta-feira, 18 de julho de 1996
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Bamerindus e promiscuidade

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - FHC ficou irritado com o destaque dado pela mídia ao seu encontro com José Eduardo de Andrade Vieira na segunda-feira.
Andrade Vieira é dono do Bamerindus. FHC quer se distanciar da imagem de presidente benfeitor de banqueiros. O encontro de segunda-feira era para ter sido sigiloso.
O presidente divulgou uma versão pessoal sobre sua conversa com o banqueiro do Bamerindus. Segundo FHC, não se discutiu o processo de reestruturação do banco.
"É um absurdo", disse o presidente para responder à sugestão de que tivesse negociado com Andrade Vieira a reestruturação do Bamerindus.
Como FHC foi tão peremptório para negar uma coisa, mas não apresentou outra no lugar, fica a dúvida: o que será que o banqueiro Andrade Vieira tinha para falar com o mais alto mandatário do país, em sigilo?
Andrade Vieira, vale lembrar, é senador (PTB-PR) e presidente do seu partido. Até há poucos dias, tinha sido ministro da Agricultura.
Além disso, o banqueiro paranaense é um dos exemplos mais acabados do caipira brasileiro -um tipo recentemente elogiado por FHC.
Finalmente, e talvez mais importante, Andrade Vieira é tido com um generoso contribuinte de campanhas eleitorais. Para a campanha presidencial de FHC, entretanto, as empresas do banqueiro doaram apenas R$ 276 mil em setembro e outubro de 94, segundo dados oficiais.
Muito dinheiro para a maioria dos brasileiros, esse valor foi relativamente pequeno para FHC em 94. Os R$ 276 mil do Bamerindus corresponderam apenas a 4,21% do total que o então candidato a presidente recebeu de instituições financeiras. E só 0,01% do total geral recebido.
Assunto, como se vê, não falta entre FHC e Andrade Vieira. Podem falar de tudo. Só que é difícil imaginar que a palavra "Bamerindus" não tenha aparecido naquela conversa sigilosa de segunda-feira.

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