São Paulo, quinta-feira, 18 de julho de 1996
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De fuzis e marketing

CLÓVIS ROSSI

Lisboa - O Conselho Nacional de Resistência Maubere está contactando um especialista brasileiro em marketing político para vender, no Brasil, a imagem do movimento e do Timor Leste, ex-possessão portuguesa na Ásia.
Os mauberes são os autóctones da região, colônia portuguesa até 1975. A partir daí, foi ocupado pela Indonésia, e a resistência luta pela independência desde então.
Até recentemente, movimentos de libertação nacional contratavam pistoleiros e não marketeiros.
Podia ser certo ou errado, ao gosto de cada qual, mas parecia mais coerente.
A mudança é um sinal dos tempos. Hoje, vende-se a libertação nacional como um produto. Antes, tentava-se conquistá-la. A bala ou, em poucos casos, numa negociação com a potência colonial.
De duas, uma: ou o mundo ficou mais civilizado (hipótese que a Bósnia e a Tchechênia desmentem) ou foi domesticado à força.
Vejo no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém, durante o ato de assinatura da declaração constitutiva da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), o presidente moçambicano, Joaquim Chissano.
Cruzamos 22 anos atrás, quando ele era um líder guerrilheiro que lutava contra a dominação portuguesa. Continua o mesmo orador talentoso e articulado, mas, afundado na cadeira estofada, de terno e gravata, parece ter perdido a centelha.
Como todos os ali presentes, aliás. Falam as mesmas coisas, embora haja diferenças portentosas entre seus países. Exemplo: só os US$ 4 milhões de ajuda que o Brasil anunciou para os seus cinco parceiros africanos correspondem a quase 10% de toda a riqueza de um deles (São Tomé e Príncipe).
Não sei se o mundo melhorou nos últimos anos ou não. Mas que é mais cinza, é evidente.

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