São Paulo, sexta-feira, 19 de julho de 1996
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Parceiro de Allen se lança como diretor

ADRIANE GRAU
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM SAN FRANCISCO

A luxuosa suíte do Prescott Hotel em San Francisco não é o ambiente mais adequado para a afirmativa de seu ilustre hóspede, ao explicar porque optou por ser roteirista.
"Preciso trabalhar, me concentrar em escrever, senão morro de fome", explica Douglas McGrath, que acaba de dirigir seu primeiro filme, "Emma", baseado no romance de Jane Austen.
O nova-iorquino não esconde um detalhe crucial no sucesso que teve ao escrever com Woody Allen o roteiro de "Tiros sobre a Broadway". "Nós nos conhecíamos socialmente, pois minha mulher, Jane Martin, e ele são grandes amigos. Ela foi sua assistente de produção em oito filmes."
McGrath afirma que percebeu antes mesmo de "Tiros sobre a Broadway" ser indicado para o Oscar de melhor roteiro que muitas oportunidades surgiriam por causa da pareceria com Allen. "Comecei a escrever 'Emma' logo após 'Tiros' ", admite. "Assim, teria algo para os produtores."
Mas antes disso seu currículo já contava com algumas conquistas no mundo dos roteiristas.
McGrath começou sua carreira assim que se formou em literatura, entrando para o time de escritores do "Saturday Night Live", o programa humorístico semanal que revelou Eddie Murphy.
"Aos 22, anos tinha que escrever cenas de quatro minutos, que eram mostradas ao vivo", relembra ele. "Aprendi a ser produtivo. Nesse programa, o escritor opina nos cenários e figurinos."
"Foi um grande erro na carreira de todos nós", ressalta ele.
"Emma"
O romance "Emma", da britânica Jane Austen, já vivia na sua cabeça como um filme há muitos anos. "Normalmente, os clássicos são muito pesados, mas a história de uma garota que quer dar uma de casamenteira sem nunca ter se apaixonado é hilária", diz.
"Além disso, fazer um roteiro onde 85% dos diálogos já estão escritos facilita bastante". O elenco de "Emma" tem a californiana Gwyneth Paltrow ("Seven"), a australiana Toni Collette ("O Casamento de Muriel") e o inglês Jeremy Northam ("A Rede").
McGrath admite que aceitar opiniões na hora de escrever é difícil. "Em 'Born Yestarday' houve 20 pessoas dando opiniões sobre cenas, um processo quase criminoso, que impede o escritor de manter o fio da meada". Por isso tira o chapéu para Woody Allen.
"Sempre aconselham a não conhecermos nossos ídolos pessoalmente, pois podem desapontar, mas Woody foi mais acolhedor e brilhante do que esperava."
Segundo ele, Allen o aconselhou a ler "Epitaph of a Small Winter", livro de um autor brasileiro cujo nome ele não consegue recordar.
"Não acho que Allen precise de um ajudante, pois tem se virado bem sozinho, mas a qualquer momento que um grande gênio ligar novamente, estarei disponível."

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