São Paulo, domingo, 21 de julho de 1996
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Lobby eficiente vende imagem moderna

FREDERICO VASCONCELOS
DO EDITOR DO PAINEL S/A

Um lobby eficiente e ações na área social incorporaram ao conceito da indústria de brinquedos o imaginário do universo infantil: a luta do bem contra o mal.
Os industriais do setor ganharam a aura de bons empresários, reforçada pelo perfil carismático de algumas lideranças. O que não tem nada a ver com a análise objetiva dos bons e maus negócios.
Há duas semanas, a indústria de brinquedos virou alvo do bombardeio contra o protecionismo. Ressurgem as análises que apontam a atividade como ineficiente e despreparada para a competição.
Na indústria de brinquedos, como em qualquer setor, há exemplos de sucesso e de fracasso. A salvaguarda, porém, veio colocar na berlinda um segmento até então preservado de maiores críticas, apesar de suas deficiências.
Maus momentos
Dilson Funaro, por exemplo, conquistou o respeito popular, como ministro, a despeito de ter sido um empresário malsucedido.
A Trol, de Funaro, teve um final desastrado, apesar dos economistas da Unicamp membros do conselho de administração.
A indústria de brinquedos de Funaro foi vítima do plano do ex-ministro, o Cruzado. Não sobreviveu nem com os socorros oficiais.
O BNDES continua cobrando judicialmente os herdeiros de Funaro, por conta de dívidas da empresa. E a Trol está listada entre as operações de empréstimos investigadas nos processos do Banespa.
Já a saída de cena de Mário Adler, da Estrela, despertou mais interesse pela retirada precoce de um empreendedor, o filho do fundador da tradicional indústria do ramo.
Os analistas de investimentos, mais pragmáticos, preferem observar o episódio a partir da controvertida reengenharia na Estrela.
Mas admiram a disposição do sucessor de Adler, Carlos Antônio Tilkian, que diz ter tomado empréstimos bancários para comprar e reerguer uma empresa em crise.
Como o mundo dos brinquedos não é composto só de heróis, a indústria teve seus momentos de exposição desconfortável. Trol, Hering, Mimo e Atma -por exemplo- foram citadas entre as companhias que deviam informações obrigatórias ao mercado.
A nova geração, porém, trouxe o ar da modernidade. Emerson Kapaz, da Elka, ex-coordenador do PNBE (Pensamento Nacional das Bases Empresariais), reforçou a imagem da indústria de brinquedos, com os elevados princípios que norteiam as chamadas bases.
Oded Grajew, ex-controlador da Grow, e também do PNBE, é a face mais arrojada dos empresários do setor, por ter apoiado a candidatura de Lula à Presidência.
Nem sempre essa estreita relação entre PNBE e Abrinq foi bem digerida. Ao criticar a proposta de reforma tributária do PNBE, Edmundo Klotz, da Abia (reúne indústria de alimentos), foi incisivo:
"Estão fazendo benemerência com chapéu alheio, ao sugerir tributar bebidas e fumo. Por que não fazem isso com brinquedos?"
A Fundação Abrinq é inatacável ao defender os direitos da criança e combater o trabalho infantil (afinal, lugar de criança, todos concordam, é na escola ou em casa, de preferência com brinquedos).
Atitudes "politicamente corretas" como essas ajudaram, durante muito tempo, a afastar análises incômodas para o setor. As lideranças da Abrinq sempre desfrutaram de boa imagem -e de bom espaço- na mídia.
Agora, as críticas ao protecionismo e a cobrança dos compromissos assumidos deixam a indústria de brinquedos mais vulnerável.
É um novo capítulo da luta do bem contra o mal. Só que, desta vez, os personagens estão invertidos.

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