São Paulo, domingo, 21 de julho de 1996
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Elizabeth Dole rouba as falas do marido

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Na terça-feira passada, o candidato da oposição à Presidência dos EUA, Bob Dole, estava no programa de entrevistas de Larry King, na rede CNN de TV por cabo.
Ao seu lado, como quase sempre em suas aparições públicas, Elizabeth. Com frequência, ela respondia questões por ele, o interrompia, terminava suas frases. Mas sempre com um sorriso, um gesto carinhoso.
Um dos apelidos de Elizabeth em Washington é "Doces Lábios". Muito diferente de "Irmã Frigidaire", como Hillary Clinton era conhecida na Universidade Yale.
Bob Dole costuma dizer em quase todos os seus comícios que Elizabeth Dole não é Hillary Clinton. É um bom argumento eleitoral. O número de admiradores de Elizabeth é três vezes maior do que o de seus críticos e os detratores de Hillary superam os seus fãs, segundo as pesquisas.
Mas se mulher de candidato ganhasse eleição, George Bush ainda estaria na Casa Branca. A popularidade da sua, Barbara, era muito maior do que a de Hillary ou mesmo a de Elizabeth.
Há mesmo quem veja o perigo de o público identificar no casal Dole o mesmo tipo de imagem negativa que se atribuiu aos Reagan: um homem idoso tutelado por uma mulher mais jovem, muito inteligente e ambiciosa, a manejar os cordões por trás do palco e a governar de fato o país.
Para impedir que isso aconteça, Dole promete que sua mulher será a primeira primeira-dama da história dos EUA a ter emprego fora da Casa Branca. Elizabeth confirma que, após a posse do marido, retornará à presidência da Cruz Vermelha, cargo que ocupa desde 1991 e do qual está licenciada.
A Cruz Vermelha é a maior entidade não-governamental dos EUA, com orçamento anual de US$ 1,8 bilhão, 32 mil funcionários e 1,4 milhão de voluntários.
O cargo não a livrará de controvérsias. Mesmo sem ser primeira-dama, ela tem sido atacada por suposta utilização da Cruz Vermelha para proteger colaboradores políticos do marido.
Além disso, foi criticada por ter adaptado folhetos educativos da entidade sobre Aids a uma linguagem mais conservadora e por não ter melhorado os padrões de vigilância sobre a saúde dos doadores de sangue da organização.
Nem virão apenas da Cruz Vermelha as acusações contra ela. Em extrema coincidência com sua oponente Hillary Clinton, Elizabeth Dole tem diversos negócios financeiros obscuros (com sócios condenados pela Justiça), os quais a enriqueceram no passado, no pequeno Estado natal de seu marido (Kansas, Meio-Oeste do país).
Mas Elizabeth Dole é mais experiente em Washington e mais calejada em política nacional do que Hillary era em 1992. Talvez consiga se safar melhor das investidas contra ela do que a atual primeira-dama tem sido capaz.
Como Hillary, Elizabeth veio de uma família de classe média alta e se casou com um homem de origem humilde, que enfrentou sérios problemas na infância. Ela é da Carolina do Norte, sul dos EUA.
Estudou ciência política na boa Duke University e direito da superprestigiosa Harvard. Mudou-se para Washington em 1965. Trabalhou no escritório de defesa do consumidor da Casa Branca sob os presidentes Lyndon Johnson e Richard Nixon.
Casou-se com o divorciado senador Bob Dole em 1975 (mesmo ano em que Bill e Hillary Clinton se casaram). Ela não tem filhos, ele tem uma, do primeiro casamento.
Foi secretária dos Transportes no governo Reagan e do Comércio no governo Bush. Seu nome foi cogitado para compor chapa com Bush em 1988.
(CELS)

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