São Paulo, domingo, 21 de julho de 1996
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Hillary é a primeira-dama mais detestada

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

A autora feminista Susan Faludi diz que Hillary Clinton é tão controvertida por ela ser uma mulher explicitamente poderosa e as pessoas odiarem as mulheres que não dissimulam o seu poder.
Elizabeth Dole, ao contrário, de acordo com Faludi, "esconde seu desejo de independência num barril de sacarina (substância doce)".
Pode ser. As duas sacrificaram suas carreiras pelas dos maridos (esta é a quarta vez que Elizabeth larga um emprego para fazer campanha com Dole), mas não há dúvida de que Hillary abandonou muito mais projetos do que a sua oponente.
Hillary Rodham nasceu em Chicago, filha de um industrial do setor têxtil em excelente posição social. Estudou no ótimo Wellesley College e se formou em direito pela superprestigiosa Universidade Yale, onde conheceu Clinton.
Se não tivesse se enterrado no Estado de Arkansas, para onde o marido a carregou para levar adiante seu projeto político de ser governador, Hillary poderia ter sido uma das mais bem-sucedidas advogadas do país.
Mesmo na pobreza de Arkansas, ela conseguiu se destacar como defensora dos direitos das crianças.
Já como primeira-dama do Estado, presidiu o Fundo de Defesa das Crianças, uma entidade não-governamental de alcance nacional, e se associou à Rose Law Firm, a maior banca de direito de Arkansas, hoje de fama duvidosa devido ao caso Whitewater.
Detestada
Hillary, 48, é a primeira-dama com pior imagem pública da história do país. Desde a campanha de 1992, sua maneira agressiva e aparência arrogante estimularam antipatias em diversas áreas.
Numa célebre entrevista, ainda quando Clinton disputava a candidatura presidencial do Partido Democrata, se referiu de maneira depreciativa às mulheres que ficam em casa "cozinhando biscoitos".
Mas na pior crise da campanha, quando Jenniffer Flowers anunciou ter sido amante de Clinton, ela foi à TV defender o seu marido como qualquer mulher bem-comportada faria.
Com o marido presidente, as coisas pioraram. Foi nomeada por ele para reorganizar o sistema de saúde, que representa 7% do PIB. O mundo caiu porque, argumentavam os adversários, ela não havia sido eleita para exercer tarefas administrativas no governo nem era membro do ministério, sujeita a demissão presidencial.
O pior é que o projeto demorou muito para ser divulgado, consumiu centenas de milhares de dólares para ser concluído e, pronto, não foi nem apreciado pelo Congresso, tamanha a oposição.
Por isso e pela barragem de acusações contra ela originadas pelo caso Whitewater, Clinton baixou a bola da mulher o quanto pôde.
Ela passou a fazer viagens ao exterior, uma função mais tradicional da primeira-dama, a aparecer mais como mãe (o casal tem uma filha, Chelsea, 16, e Hillary disse há dois meses que gostaria de adotar um bebê) e se afastou dos temas públicos, exceto os relacionados a família (lançou este ano um livro sobre educação infantil).
Na campanha deste ano, Hillary vai continuar na moita, embora a indisfarçado contragosto. Suas aparições serão mínimas e convencionais. Sobre a sugestão de Bob Dole -de um debate entre ela e Elizabeth- nem pensar.
Depois da reeleição, no entanto, as coisas podem mudar, em especial se o caso Whitewater for encerrado sem maiores embaraços para o primeiro casal. Aí, livre de novos testes eleitorais, pode ser que Hillary exija e obtenha do marido um novo papel privilegiado.
(CELS)

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