São Paulo, segunda-feira, 22 de julho de 1996
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O brasileiro e o livro

WANDER SOARES

O mercado editorial brasileiro, tal como se apresenta hoje, é resultado da relação dos brasileiros com o livro. Num país com cerca de 160 milhões de habitantes, somos levados a considerar muito bom um ano como o de 1995, quando se produziram, em todos os gêneros de publicação, exatos 330.834.320* exemplares, de 40.503 títulos diferentes. Numa primeira análise, dir-se-ia que no Brasil produzem-se cerca de dois livros per capita/ano. E isso é pouco? Vejamos:
Desse total, 193.736.323 são livros escolares, e 39.869.580, religiosos. Sobram pouco mais de 97 milhões de exemplares destinados ao grande público. É nesses 97 milhões, ou 29% do total, que estão os livros técnicos, científicos e profissionais. Portanto, todos os livros universitários. Ainda fazem parte desse número os romances, as novelas, os ensaios, as biografias, os esotéricos, os livros de auto-ajuda, de culinária, os policiais e tantos outros.
Se considerarmos nossa população adulta em relação a esse quantitativo, vamos verificar que a média se altera para pior. Somos um país de dois livros per capita. Será por causa de nossa cultura essencialmente oral, pela influência de comunicação eletrônica (rádio e TV), ou por falta de dinheiro?
É crescente o número de leitores em todos os países desenvolvidos, apesar das profecias em contrário, que se baseiam na tese de que o livro será substituído pela multimídia eletrônica. Nos países nórdicos, o índice de livros per capita/ano ultrapassa 15; nos Estados Unidos, onde as alternativas de lazer e cultura são talvez as mais variadas do mundo, esse número ultrapassa seis exemplares. Esses dados são da Unesco, em seu levantamento anual do índice de leitura.
Para não fugir ao refrão que diz ser o Brasil um país de contrastes, foi justamente um brasileiro, o grande Monteiro Lobato, que afirmou que "um país se faz com homens e livros". Outros setores no Brasil têm alcançado índices de crescimento muito superiores ao livro. Qual é a primeira idéia de lazer que ocorre a um brasileiro que deseja descansar, distrair-se? Com certeza não é ir a uma livraria e escolher um livro para ser seu companheiro nas horas de recolhimento. Nós estamos por descobrir o mundo maravilhoso que há nos livros.
Já estamos na Internet, mas ainda não chegamos ao livro como outros povos. O livro ainda não ocupa em nossas vidas o espaço nobre que a ele deveria pertencer. Urge colocar à disposição da criança e do jovem muitas e muitas obras literárias, para que eles possam, livremente, eleger seu modo de lazer e se acostumar à idéia de que o livro guarda, em suas páginas, um universo de encantamento.

*Dados extraídos do "Diagnóstico do Setor Editorial Brasileiro em 1995". Fundação João Pinheiro/CBL.

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