São Paulo, segunda-feira, 22 de julho de 1996
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Brasil tenta pódio duplo

Borges e 'Xuxa' nadam 100 m

ANDRÉ FONTENELLE
ENVIADO ESPECIAL A ATLANTA

A natação brasileira pode viver hoje um dia histórico se Gustavo Borges e Fernando Scherer subirem ao pódio dos 100 m nado livre.
Borges pode se tornar o primeiro atleta olímpico brasileiro com três medalhas, e a prova também pode ser a primeira com dois brasileiros no pódio em Olimpíadas.
Os adversários, porém, são muitos, em especial o russo Alexander Popov, atual campeão, e Jon Olsen e Gary Hall Jr, dos EUA.
Borges e Scherer disputam a oitava bateria eliminatória, nas raias três e cinco, respectivamente. Entre eles, na raia quatro, ninguém menos que o favorito Popov.
Nesta entrevista exclusiva, Borges afirma que quer repetir hoje seu gesto das duas vezes em que já subiu ao pódio olímpico: erguer a bandeira brasileira.
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Folha - Um grande resultado da natação brasileira em Atlanta pode significar uma explosão da natação no Brasil?
Gustavo Borges - Desde 91/92, a natação começou a conquistar várias medalhas. A gente conseguiu esses resultados, e a natação cresceu muito no país. Nos últimos anos, com a chegada do Xuxa (apelido de Scherer), foi mais um salto. Então, com essa Olimpíada, espero que cresça ainda mais. Eu vou batalhar. Agora vou ver se dou um pouco de volta para a natação brasileira. Lá no Brasil mesmo.
Folha - Você é o primeiro nadador brasileiro com duas medalhas olímpicas. O que isso representa para você?
Borges - Representa muito. Nessas horas a gente reconhece o quão legal é toda essa competição, a adrenalina, o espírito olímpico. Dou muito valor a isso.
Folha - Você está perto de outro recorde: ser o primeiro atleta brasileiro com três medalhas.
Borges - Nem sabia, nunca ninguém tinha me falado isso. Eu tenho mais duas chances. Vou tentar de qualquer forma chegar lá. Mas eu já fiz muito nessa prova.
Folha - Há a possibilidade de dois brasileiros subirem ao pódio na mesma prova pela primeira vez. Você conversa sobre isso com Fernando Scherer?
Borges - Lógico, a gente já conversou sobre isso. A gente tem a chance grande aí. Há o Popov, que está um pouco na frente, mas não é imbatível. E tirar os dois norte-americanos da prova dá um clima um pouco mais doce à prova. A gente vai tentar com força entrar nas finais, o que é a primeira coisa. Nadar bem de manhã e, depois, partir para cima à tarde.
Folha - Tom Dolan afirmou que todo mundo quer ganhar dos norte-americanos. Isso é verdade para vocês também?
Borges - Não. Todo mundo veio aqui para ganhar o ouro. Os americanos estão na casa deles, têm uma torcida maior, mas, vencer, tanto faz se for contra um americano, contra um russo ou não sei o quê. Tanto faz.
Folha - O que passou pela sua cabeça durante os 200 m livre?
Borges - Eu não pensei muito durante a prova. Estava fazendo minha prova, nem sabia em que lugar eu estava. Estava respirando para o lado do público. Acabou que cheguei, vi o segundo lugar e nem estava acreditando. Não tinha noção de como estava o meu lado direito. Estava olhando por baixo, vi que tinha gente perto, mas cresci muito no final da prova e, quando cheguei, vi a medalha de prata. Fiquei emocionado.
Folha - Você repetiu no pódio o gesto de levantar a bandeira com as duas mãos. Foi proposital?
Borges - Se eu ganhar uma medalha nos 100 m ou no 4 x 100 m vou repetir de coração. Acho que o patriotismo está presente em todo atleta e em mim principalmente.
Folha - Como o atleta faz para chegar ao auge na hora da competição? Você vinha nadando os 200 m em 1min51s e, na final olímpica, fez o melhor tempo da carreira.
Borges - Fiz 1min51s pesado, treinando bastante. É um ciclo de treinamento pelo qual a gente passa todo ano. Eu sabia, quando fiz 1min51s, que iria nadar bem aqui, porque estava treinando bastante naquela época.
Folha - Quando você saiu da piscina, sacudia a cabeça, como que incrédulo.
Borges - É, é um gostinho a mais. Eu falei ontem (anteontem): quando você vai ficando mais velho, cada conquista vai adquirindo um sabor especial. E essa conquista foi muito especial para mim.
Folha - Como foi, depois, na Vila Olímpica?
Borges - Cheguei tarde. Quase à meia-noite. Ainda estava muito conturbado. Dormi às 2h da manhã. Dormi seis horas. Ainda estou na adrenalina. Hoje (ontem) vou descansar um pouco mais.

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